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Vizinho em mudança

Lugo assume com desafio ao Brasil

Trabalhador pinta fachada de prédio próximo ao palácio do governo, em Assunção | Ivan Alvarado/Reuters
Trabalhador pinta fachada de prédio próximo ao palácio do governo, em Assunção (Foto: Ivan Alvarado/Reuters)

A posse do ex-bispo católico Fernando Lugo como presidente do Paraguai, que ocorre hoje em Assunção, será acompanhada de perto por muitos brasileiros. Além de este ser um momento histórico para o país vizinho, que depõe o Partido Colorado depois de 61 anos no poder, Lugo assume o cargo com pelo menos três assuntos mal resolvidos com o Brasil: as taxas pagas pela energia elétrica gerada em Itaipu, a situação ilegal dos colonos "brasiguaios" nas terras de fronteira com o Paraguai, além dos problemas de distribuição de produtos falsificados e sem procedência no mercado brasileiro.

A questão de reajuste tarifário veio à tona na campanha eleitoral paraguaia, quando o então candidato prometeu atualizar os valores pagos pela energia utilizada pelo Brasil. O valor defendido por Lugo é pelo menos cinco vezes superior ao montante pago hoje, de US$ 300 milhões por ano.

O professor de planejamento estratégico da Universidade Autônoma de Assunção, Jose Felix Bogado defende o reajuste. Para ele, o tratado de Itaipu – datado de 1973 e com vigor até 2022 – tem cláusulas insustentáveis para o mercado atual. "Um tratado da época das duas ditaduras (paraguaia e brasileira), com câmbios absolutamente distintos, é claro que precisa de revisão. Em 1973 o barril de petróleo custava US$ 8, hoje já está batendo em US$ 150", argumenta.

Até ontem, a posição oficial do Ministério das Relações Exteriores era que o Tratado de Itaipu é inalterável, mas que o diálogo entre os dois países continua aberto para discussão de soluções que auxiliem o desenvolvimento econômico do Paraguai.

O economista Wagner Weber, que estuda o desenvolvimento paraguaio há 26 anos, chama de "simplórios" os argumentos de reajuste das tarifas. De acordo com ele, o número de paraguaios na linha de extrema pobreza caiu de 50% para 16% em 15 anos – do início da produção de Itaipu, em 1983, até 1998. "Itaipu trouxe investimentos que permitiram a interiorização do país, juntamente com uma reforma agrária, coisa que o próprio Brasil está tentando há décadas sem sucesso", ilustrou.

A questão dos brasiguaios (brasileiros produtores de terras no Paraguai) é outra situação delicada para Lugo, pois em algum momento ele terá que reprimir quem o elegeu, a classe mais pobre da população, que espera por uma transformação no campo. A avaliação é do colunista do jornal paraguaio Última Hora Alfredo Boccia. "Apesar da agitação que é noticiada, de um nacionalismo simplório, com queimação da bandeira brasileira, o problema não é verdadeiramente de preconceito com brasileiros. O problema é que a produção de soja do país se concentra onde estão os brasileiros, e isso só será resolvido com a repartição das terras", avalia.

Contrabando

A farta oferta de produtos falsificados produzidos no Paraguai também deve ser combatida pelo novo governo, de acordo com o diretor da Associação Brasileira de Combate à Falsificação Luciano Stremel Barros. Segundo ele, o prejuízo anual total com o contrabando soma R$ 65 bilhões para o Brasil. "Uma das metas do Lugo é mudar essa imagem do Paraguai, derrubar as fábricas ilícitas e moralizar o controle aduaneiro", diz Barros.

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