Brasil defende Irã no Conselho de Segurança
De posse de uma cadeira não permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas desde 1.º de janeiro, o governo Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará um custoso desafio nos próximos meses: evitar que o organismo baixe sanções contra o Irã, como punição pela sua insistência em enriquecer urânio em níveis considerados perigosos.
Na última terça-feira, em Ancara, na Turquia, o chanceler Celso Amorim reiterou a uma plateia de 200 embaixadores a visão brasileira de que o isolamento de Teerã precisa ser evitado e de que a via da negociação não deve ser suspensa.
Amanhã, o Brasil fará sua estreia efetiva no Conselho de Segurança, durante uma reunião para a avaliação das operações das Nações Unidas na Costa do Marfim. O governo brasileiro terá assento nesse órgão máximo de decisão mundial até 31 de dezembro de 2011, sendo que a metade desse período se dará sob o comando do sucessor do presidente Lula.
O chanceler Celso Amorim admitiu que o Brasil estaria disposto a estabelecer um diálogo com o grupo Hamas, alvo de um boicote dos países ocidentais, e quer ajudar a monitorar um eventual relançamento do processo de paz no Oriente Médio. Mas recebeu ontem um duro recado do governo da Autoridade Palestina: uma aproximação ao Hamas pode dar a impressão ao grupo considerado como terrorista de estar ganhando legitimidade internacional.
O chanceler brasileiro manteve em Genebra uma reunião com o ministro de Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Riad Malki. Na pauta, a participação do Brasil no monitoramento da implementação do processo de paz na região, uma nova posição que o Itamaraty quer garantir nos próximos meses.
Na agenda do encontro, os ministros ainda trataram da realização de uma conferência mundial no Brasil sobre a Palestina e a confirmação da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos territórios palestinos, Israel e Jordânia, na semana do dia 15 de março. O presidente também pode pagar a visita do iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
Malki, como já fez em abril de 2009, criticou o Quarteto (grupo que promove o processo de paz: Rússia, Estados Unidos, União Europeia e ONU) e defendeu que uma conferência mais ampla seja convocada para lidar com a paz no Oriente Médio, inclusive com a participação do Brasil.
"Muitos países têm o direito de dar sua contribuição para o processo de paz. Se o Brasil quiser ter esse papel, devemos considerar. Isso ajudará o processo de paz", disse o palestino. "Nós sentimos que o Quarteto não faz o suficiente para fazer avançar o processo de paz. Ele deveria ser aberto e permitir que novas ideias sejam injetadas. O Brasil mostrou que quer contribuir", afirmou Malki.
Os palestinos acusam os israelenses de estarem bloqueando a retomada do processo de paz. Em um eventual relançamento, querem um grupo de países mais próximos aos interesses palestinos para monitorar o cumprimento das obrigações.
Modelo latino
Amorim confirmou que o Brasil quer participar no monitoramento do processo de paz e citou o modelo da América Central nos conflitos nos anos 80 como exemplo que poderia ser seguido. Naquela ocasião, havia um grupo de moderadores.
Para o chefe da diplomacia brasileira, a ideia é que, em uma eventual retomada do processo de paz, o Itamaraty possa ficar encarregado de monitorar um aspecto do tratado, como fronteiras ou outro tema.
Amorim também não descarta que esse monitoramento seja feito por um grupo, como Brasil, África do Sul e Índia. Se isso ocorresse, o grupo lançado pelo Brasil para atuar no cenário internacional poderia ter sua primeira atuação.
Viagem
Sobre a viagem de Lula ao Oriente Médio, Amorim garante que ele não irá com "soluções mágicas". "As soluções estão lá. Já sabemos o que podemos obter como resultado. Mas a questão é como será a implementação do processo de paz. E não reinventar o processo", explicou Amorim, que garante que o Brasil não está buscando protagonismo.
Amorim ainda admitiu que o governo brasileiro manteve "contatos informais com o Hamas no passado". Mas não disse nem quando e nem quem fez o contato. Apenas indicou que estaria disposto a repeti-lo se isso fosse ajudar o processo.
"Se isso ajudar, não excluo. Acreditamos no poder da razão. Talvez seja inocente. Mas temos de conversar", disse, ao responder a uma pergunta da imprensa internacional sobre se estaria disposto a conversar com o Hamas diretamente.