Em um duro pronunciamento conjunto, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Nicolas Sarkozy, cobraram dos Estados Unidos e da China avanços que permitam um acordo concreto na 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas, prevista para dezembro, em Copenhague. Em entrevista, os dois chefes de Estado apresentavam um "programa comum" - na realidade, uma carta de intenções - para o acordo que renovará o Protocolo de Kyoto, quando Lula cobrou frontalmente Barack Obama e Hu Jintao.
Documento assinado por Brasil e França, que Lula qualificou de 'bíblia climática', não traz números.
"Não temos o direito de permitir que o presidente Obama e que o presidente Hu Jintao façam um acordo com base apenas nas realidades políticas e econômicas dos dois países", disparou o brasileiro. Neste fim de semana, Obama realiza turnê pela Ásia, e teria encontro em Pequim com a cúpula do governo chinês. Não satisfeito, Lula foi além: "No fundo, o que estamos vendo é a tentativa de criação de um G2, com interesses específicos, para resolver o problema climático dos dois países sem se importar com os compromissos que temos de ter com o conjunto da humanidade."
As declarações, feitas ao lado da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e frente à cúpula do governo francês, foram endossadas por Sarkozy e pelos ministros das Relações Exteriores, como Bernard Kouchner, e do Meio Ambiente, Jean-Louis Borloo. Um pouco mais comedido, sem citar os nomes de Obama e Jintao, o chefe de Estado francês também atacou o suposto entendimento entre Estados Unidos e China. "Vocês sabem da admiração que tenho pelos Estados Unidos e da confiança que tenho no presidente Obama. A primeira economia do mundo deve estar à altura de suas responsabilidades", afirmou Sarkozy, até aqui considerado em seu país um presidente "Atlantista", ou sejam, amigo dos Estados Unidos.
A seguir, o francês argumentou: "O mundo é multipolar. Não transformamos o G8 em G20 para nos encontrar face a algo que seria ainda mais fechado", disse, mais uma vez em alusão à relação entre EUA e China.
As críticas de Lula foram feitas um dia após o governo brasileiro anunciar a proposta que levará a Copenhague, prevendo "objetivos" - e não "metas", que no jargão diplomático significam obrigações - de redução de emissões entre 36,1% e 38,9% até 2020. O presidente ressaltou que o Brasil já havia decidido combater o desflorestamento, prevendo sua redução em 80% até 2020. Então, mais uma vez comparou seus objetivos aos dos Estados Unidos, lembrando que o plano climático coordenado por Dilma "equivale à redução que o presidente Obama está mandando ao Congresso Nacional" norte-americano. "O Brasil não está brincando", garantiu.
Sarkozy, que ouviu em silêncio os discursos de Lula e Dilma por mais de 15 minutos, foi só elogios à proposta brasileira. "O Brasil é o primeiro país emergente do mundo que assume engajamento preciso desta natureza", ressaltou.
Planejado para ser o centro das atenções, o documento conjunto divulgado por Brasil e França acabou ficando em segundo plano. Embora Lula o tenha definido como uma "bíblia climática" que poderia "balizar" outros países para um "paradigma igual ou próximo", o documento traz apenas compromissos, mas não números - vitais para o sucesso de Copenhague.
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