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Precaução

Lula pede a Uribe garantias de que bases militares ficarão restritas à Colômbia

Acordo entre Colômbia e EUA preocupa o governo brasileiro, afirmou o presidente Lula durante encontro com o mandatário colombiano Álvaro Uribe, em Brasília | Roberto Jayme / Reuters
Acordo entre Colômbia e EUA preocupa o governo brasileiro, afirmou o presidente Lula durante encontro com o mandatário colombiano Álvaro Uribe, em Brasília (Foto: Roberto Jayme / Reuters)

O Brasil reconhece a soberania da Colômbia no acordo com os Estados Unidos sobre o reforço de forças militares norte-americanas em bases colombianas, mas expressou desejo de que o tratado seja negociado com "transparência", disse nesta quinta-feira (6) o chanceler brasileiro, Celso Amorim.

Segundo o ministro das Relações Exteriores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou, em encontro com sua contraparte colombiana, Álvaro Uribe, o propósito do Conselho de Defesa, que reúne países da região, para discutir a questão. Na avaliação do governo brasileiro esse é o melhor fórum para tratar o assunto, foco de tensões na região.

Segundo do presidente Lula, o grupo tem o objetivo de atuar na gestão do impasse e clima de confiança de forma a dirimir divergências "com tranquilidade e de maneira técnica".

"Voltamos a reiterar que o acordo com os Estados Unidos, que seja específico e delimitado ao território colombiano, é uma matéria naturalmente de soberania da Colômbia", disse Amorim a jornalistas após o término da reunião dos dois mandatários, que durou cerca de duas horas.

Na saída, o presidente colombiano limitou-se a uma declaração de 40 segundos, em que saudou a imprensa e o povo brasileiro. Ao ser perguntado se participaria da próxima reunião da Unasul, apenas fez um gesto negativo com o dedo indicador.

A próxima reunião está marcada para dia 10, no Equador. A Colômbia, no entanto, já havia informado que o presidente não participaria do encontro. Na semana na passada, Lula disse que o Conselho de Defesa Sul-Americano poderia ser convocado para tratar da questão durante encontro da Unasul.

Questionado se o Brasil exigiu garantias de que as operações se limitariam exclusivamente ao território colombiano, Amorim disse: "E eu creio que isso será objeto de uma reflexão. Há uma sugestão (do Brasil) de uma transparência maior e temos que ver exatamente se isso satisfaz as nossas dúvidas ou não."

Ainda conforme o chanceler haverá mais conversas sobre o tema, sem especificar datas nem participantes.

O combate ao narcotráfico, um dos objetivos do acordo militar Colômbia-EUA, foi discutido pelos dois chefes de Estado. Segundo Amorim, falou-se da importância de América do Sul assumir o combate ao narcotráfico "sem ingerência externa".

O Brasil foi o último destino de um périplo feito pelo presidente colombiano em alguns países da região para justificar o tratado e diminuir a polêmica sobre a presença de forças militares norte-americanas no território do país.

Uribe argumenta que o projeto não inclui a instalação de bases militares norte-americanas, mas o uso compartilhado de instalações colombianas, necessário para fortalecer a luta contra o narcotráfico e a guerrilha.

O acordo com os EUA levou o governo da Venezuela a retirar no mês passado o seu embaixador de Bogotá. O presidente Hugo Chávez disse nesta quinta-feira que a única solução para a crise da Venezuela com a Colômbia seria que o governo de Uribe cancele seu plano de incrementar a cooperação militar com os EUA, que permitiria a utilização de sete bases na Colômbia.

América do Sul preocupada

Ao estampar suas dúvidas sobre a possibilidade de as tropas americanas avançarem no território dos países da região, a partir das bases da Colômbia, o governo Lula alinhou-se claramente às críticas e aos argumentos da Venezuela, do Equador e da Bolívia. Em seu périplo por seis países da América do Sul, iniciado na última terça-feira e concluído nesta quarta com a conversa com o presidente brasileiro, Uribe havia colhido o apoio do peruano Alan Garcia, o respeito ao acordo EUA-Colômbia de Michelle Bachelet, do Chile, de Tabaré Vázquez, do Uruguai, e de Fernando Lugo, do Paraguai, e a oposição branda de Cristina Kirchner, que o considerou "inconveniente".

Visitado na última terça por Uribe, o boliviano Evo Morales expressou uma dura reação. "Isso (a presença americana nas bases da Colômbia) não é contra as Farc nem contra o narcotráfico. É para a região", declarara.

Rafael Correa, do Equador, e Hugo Chávez, da Venezuela, não foram visitados por serem alvos de acusações de Bogotá de cooperarem com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e por serem os principais críticos ao acordo EUA-Colômbia.

Algumas horas antes da reunião entre Lula e Uribe nesta quinta, o Uruguai reafirmou que se opõe à "existência ou estabelecimento" de bases militares estrangeiras "em qualquer território da América Latina".

O pronunciamento uruguaio aconteceu pouco após a reunião entre Vázquez e Uribe. A chancelaria uruguaia disse em comunicado que Vázquez reafirmou a Uribe que o Uruguai respeita "o princípio de não intervenção nos assuntos internos dos estados como uma pedra fundamental nas relações internacionais".

Mas o Uruguai também "reitera sua posição histórica, contrária à existência ou estabelecimento de bases militares estrangeiras não apenas em um país, como também em qualquer território da América Latina".

O embate dessas posições conflitantes se dará na próxima segunda-feira (10), quando os líderes da Unasul se reunirão em Quito, no Equador, em paralelo à posse de Correa em seu segundo mandato. Embora o presidente Lula tenha insistido para que comparecesse, Uribe não participará desse encontro.

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