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Lutando em prol de ‘emancipação e valorização’ na Índia

Sucesso aconteceu “pela graça de Deus e da minha luta, muito trabalho e determinação” | Danish Siddiqui/Reuters
Sucesso aconteceu “pela graça de Deus e da minha luta, muito trabalho e determinação” (Foto: Danish Siddiqui/Reuters)

A pugilista indiana Mangte Chungneijang Mary Kom cresceu lutando.

Lutou contra as convenções, como filha mais velha de um agricultor sem-terra no turbulento Estado de Manipur, no nordeste do país, onde conduzia bois pelos arrozais —atividade que, como os meninos da aldeia faziam questão de deixar claro, era exclusiva dos homens.

Lutou contra a falta de recursos, quando adolescente, treinando na capital do Estado – e comprando tênis falsificados num mercado clandestino na fronteira com Mianmar, se virando com duas refeições por dia, fazendo "sombra" diante do espelho.

Lutou em seguida contra o seu próprio corpo, após passar por uma cesárea para ter gêmeos, depois outra para um terceiro menino, e então voltar a treinar para combater a lentidão decorrente do parto e a súbita indisposição das suas pernas para saltitar.

Talvez não seja surpreendente, portanto, que Kom, 32, mais conhecida como Mary, pareça não desistir de lutar. Ela é pentacampeã mundial, medalhista de bronze na Olimpíada de Londres e de ouro nos Jogos Asiáticos de 2014 em Incheon, na Coreia do Sul.

Sua autobiografia, "Unbreakable" (inquebrável), foi lançado em 2013 numa cerimônia organizada pela atriz e ex-Miss Universo indiana Sushmita Sen, que descreveu a história dela como "o caminho de uma mulher até a emancipação e a valorização".

Kom foi tema de um filme biográfico de Bollywood, lançado com sucesso em setembro, o que é talvez o maior indicador de ter chegado lá na Índia.

Mas sua ascensão é marcada por queixas profundas, muitas vezes contra a, segundo ela, burocracia esportiva que esmaga não só ela, mas também outras pugilistas mulheres.

A Federação Indiana de Boxe suspendeu Kom por conduta antidesportiva em 2009, depois que uma adversária do Estado de Haryana, no norte do país, Pinky Jangra, foi declarada vencedora de um combate que terminara empatado.

Kom usou "linguajar chulo" com os juízes. Ela voltou a perder para Jangra em 2014, nas eliminatórias para os Jogos da Comunidade Britânica.

Sua oponente, segundo ela, "nunca me derrotou, mas os árbitros não me favorecem, não dão ponto nenhum para mim".

Kom acrescentou: "Na Índia, a maioria dos pugilistas do nordeste enfrenta esse problema".

A Índia se esforça para conter várias insurreições em seus Estados do nordeste, a maioria dos quais dominados por populações tribais, etnicamente afins a seus vizinhos do Sudeste Asiático.

Quando vão a Nova Déli ou Bangalore para estudar ou trabalhar, muitos indianos daqueles Estados se queixam de discriminação. Kom, que é de uma pequena comunidade também chamada Kom, não é exceção.

Vários anos atrás, ela ia a pé com amigos, todos koms, para uma igreja em Nova Déli, quando um ônibus parou ao lado deles e o motorista os chamou de nepaleses, querendo dizer, segundo ela, que eram servos imigrantes.

Ela não se lembra de quem deu o primeiro soco, mas, quando viu, seus amigos homens estavam brigando com alguns passageiros, enquanto outros fugiram.

Quando está no ringue, ela cerca as adversárias, esquiva-se habilmente dos socos e dispara ganchos de esquerda bem no rosto, para ganhar o máximo de pontos. E adora intimidar.

"Quando Mary Kom entra no ringue, ela já ganhou", disse o cronista S. Sabanayakan, que acompanha a sua carreira.

Ela já foi descrita como simples e reservada, humilde e orgulhosa. Seu foco agora é a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, onde espera ganhar o ouro. Ela é vista como alguém que fala o que pensa e, por extensão, uma má diplomata. Quando reclama do preconceito, faz isso com ar de quem quer deixar tudo em pratos limpos. Não é humilde sobre seu status.

"Isso aconteceu pela graça de Deus e pela minha luta, muito trabalho, determinação", disse.

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