Buenos Aires (AFP) A cidade de Buenos Aires estava de luto ontem, com cartazes, além de faixas em memória das vítimas, a um dia do primeiro aniversário do incêndio de uma discoteca durante um show de rock, que deixou 194 mortos. A capital argentina amanheceu coberta de cartazes com fundo negro e três palavras em branco: "Memória, verdade e justiça", embaixo da data "2004 30 de dezembro 2005", para recordar a tragédia da discoteca República Cromagnon, no bairro portenho de Once. Os cartazes têm a assinatura do governo portenho, a quem os familiares das vítimas responsabilizam pela suposta falta de controle das discotecas.
Os familiares rodearam a sede do governo com uma enorme faixa com os nomes dos 194 mortos, a maioria jovens. No edifício oficial, foram colocados cartazes contra o prefeito afastado de Buenos Aires, Aníbal Ibarra. "Digo a todos os familiares que não apenas compartilho sua dor, mas também o compromisso com a verdade e a justiça", disse Ibarra à imprensa na porta de sua residência.
Impeachment
Ibarra (centro-esquerda), um aliado do presidente Néstor Kirchner, foi afastado do cargo em meados de novembro, por 120 dias, para ser submetido a um processo de impeachment iniciado nesta semana, por sua suposta responsabilidade política na tragédia. Os governos da capital e da província de Buenos Aires decretaram luto para hoje.
Familiares das vítimas realizaram nesta semana uma vigília de aniversário que terminará hoje com uma passeata até o bairro de Once, onde funcionava a discoteca. Os familiares construíram um santuário em frente à discoteca. Do outro lado da rua, será inaugurado um Mural da Memória, realizado com cerâmicas doadas por trabalhadores de Zanón, uma fábrica recuperada por operários depois de sua falência em 2002.
No Obelisco portenho, em pleno centro de Buenos Aires, foi exibido ontem à noite o documentário "Cromagnon, retazos de la memoria", realizado por estudantes universitários. O cardeal Jorge Bergoglio celebrará hoje uma missa na Catedral Metropolitana para os pais das crianças mortas, antes do início da passeata que partirá da Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, onde haverá uma exposição de fotos sobre a tragédia.