Os cientistas acabam de desferir um novo golpe contra o orgulho da espécie humana, que já não andava mesmo muito bem das pernas. Uma comparação genética abrangente entre o DNA do Homo sapiens e o dos chimpanzés (Pan troglodytes) sugere que quem evoluiu mais nos últimos milhões de anos foram eles, e não nós.
É bom esclarecer desde que o começo que a avaliação se refere a transformações no material genético de ambas as espécies -- não tem nenhuma ligação com aspectos morais ou sociais que as pessoas às vezes associam à idéia de evolução.
Mesmo assim, a maioria dos cientistas considera que uma coisa é diretamente relevante para explicar a outra. Afinal, chimpanzés não falam nem constroem naves espaciais. Acreditava-se que esse abismo entre nós e eles poderia ser explicado por um conjunto de genes que se transformou rapidamente nos humanos -- evoluiu, portanto -- desde que nos separamos do ancestral comum que nos unia aos chimpanzés há cerca de 6 milhões de anos.
A história parecia fazer todo o sentido; afinal, entre todos os grandes macacos (que incluem, além de humanos e chimpanzés, os gorilas e os orangotangos), o homem é o que mais parece ter mudado ao longo do tempo. Mas, parafraseando Garrincha, faltou combinar isso com os macacos. É o que indica a análise feita por Margaret Bakewell, Peng Shi e Jianzhi Zhang, da Universidade de Michigan em Ann Arbor (EUA), na última edição da revista científica "PNAS". O cálculo do trio indica que a evolução dos chimpanzés foi cerca de 50% mais veloz que a humana nesses 6 milhões de anos.
Mudanças para valer
Para chegar a esse número, os pesquisadores fizeram basicamente um trabalho comparativo: puseram lado o genoma de humanos, chimpanzés e macacos resos, parentes relativamente próximos dos grandes macacos que teriam se separado da nossa linhagem há 25 milhões de anos.
Por ser um primo nem tão próximo e nem tão distante, o macaco reso é fundamental nessa história, pois funciona como termo de comparação para saber quando, ao longo da evolução, certas mudanças aconteceram na linhagem humana.
Suponha, por exemplo, que uma mutação apareça tanto em humanos quanto em chimpanzés, mas não entre resos: o mais provável, nesse caso, é que ela tenha surgido após a separação da dupla humano-chimpanzé, mas antes que esses dois se separassem. Já uma característica genética compartilhada por resos e humanos, mas não por chimpanzés, provavelmente indica que quem mudou ao longo do tempo foram os chimpanzés (e não humanos e resos independentemente). E tudo isso acaba sugerindo quais são os traços genéticos únicos de cada espécie.
No caso, após esse trabalho comparativo, os pesquisadores examinaram 14 mil genes de cada espécie, em busca de mudanças que poderiam ter sido favoráveis para a sobrevivência delas. Uma das "assinaturas" desse tipo de mudança é o fato de que uma dada alteração num trecho de DNA se reflita também numa alteração da proteína cuja receita está contida naquele gene. Isso é importante porque os genes não "fazem" nada no organismo: eles apenas contêm as instruções para a produção das proteínas, essas sim as verdadeiras responsáveis por fazer a coisa andar. Assim, se a proteína mudou (algumas alterações genéticas podem deixá-la inalterada), é sinal de aquele gene está sob impacto da seleção natural, o principal motor da evolução.
E foi olhando para essas alterações que o trio de pesquisadores identificou 154 genes humanos que estavam sob pressão positiva da seleção natural (ou seja, estavam mudando como resultado de sua importância para a sobrevivência), enquanto 233 genes de chimpanzés passavam pela mesma situação. E o curioso é que são genes aparentemente "discretos" -- ligados a fatores sutis, como o metabolismo das células.
No caso dos genes altamente "evoluídos" entre humanos, não aparece haver nenhum particularmente ligado ao nosso cérebro avantajado. Portanto, o mistério a respeito das mudanças genéticas que nos tornaram verdadeiramente humanos continua.
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