Crises lancinantes de dor no estômago e vômito, que só melhoram com um banho quente. Exames (de sangue, endoscopia, colonoscopia, etc.) com resultados normais. Homens desesperados com a dor, sem saber a causa desse sofrimento. Uso frequente de maconha.
Esse quadro desolador manifesta um distúrbio antes raro, mas que está cada vez mais comum, segundo pesquisadores nos Estados Unidos: a Síndrome de Hiperêmese Canabinoide (SHC).
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A SHC é um distúrbio que causa náuseas e vômitos repetidos em usuários frequentes de maconha e que é curado com a abstinência da substância. De acordo com um estudo realizado por pesquisadores no Colorado, os relatos de efeitos adversos com o aumento do uso da maconha têm aumentado com o crescimento do uso da erva. Nos Estados Unidos, 26 estados e a capital Washington D.C. possuem leis que legalizam a maconha de alguma forma.
“Depois que a maconha foi legalizada no Colorado, tivemos uma duplicação no número de casos de síndrome de vômito cíclico”, disse ao The New York Times a médica Cecilia J. Sorensen, médica do pronto-socorro do Hospital Universitário do Colorado, em Aurora, uma das pesquisadoras sobre a Síndrome.
O estudo repete em vários momentos que a SHC continua pouco usual, mas que tem aparecido com mais frequência e é facilmente confundida com outros distúrbios – e, portanto, estaria sendo subnotificada. Enquanto não se descobre que a causa é o uso da maconha, muitos pacientes passam muito tempo sofrendo sem saber o motivo.
“O SHC tem muitas semelhanças clínicas com a Síndrome do Vômito Cíclico (SVC), um distúrbio gastrointestinal funcional, o que pode ser um dilema para o diagnóstico”, anotam os autores da pesquisa.
Outro estudo realizado em um hospital público em Nova York apontou que, de um total de 155 que admitiram utilizar a maconha pelo menos 20 dias por mês, 51 deles relataram dores de estômago e vômitos frequentes, pelo menos nos seis meses anteriores à entrevista, que eram minimizados com banhos muito quentes tomados de forma compulsiva.
Os autores da pesquisa, de acordo com essa amostra, estimaram que até 2,7 milhões dos 8,3 milhões de americanos que usam a maconha diariamente ou com muita frequência podem apresentar episódios de SHC. “Conheço paciente que perderam seus empregos, foram à falência por repetidas consultas médicas e diagnosticados incorretamente por muitos anos”, disse um dos responsáveis por esse outro levantamento, o médico Joseph Habboushe, também ao The New York Times.
“A maconha é provavelmente mais segura do que muitas outras coisas por aí, mas a discussão sobre isso tem sido politizada e o foco tem sido nos benefícios potenciais, sem olhar rigorosamente para o possível ponto negativo”, disse ele. “Nenhuma medicação é livre de efeitos colaterais”. O médico relatou ainda casos de desidratação por banhos quentes compulsivos e incapacidade de manter líquidos no organismo pelos vômitos.
Todos esses dados têm sido contestados por algumas entidades nos Estados Unidos favoráveis à legislação favorável ao uso de drogas, como a Organização Nacional para a Reforma das Leis da Maconha (NORML). Para eles, esses efeitos nocivos são raros e atingem apenas uma pequena quantidade de pessoas.
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