Em vez de fortalecer uma "terceira via", os peronistas mais proeminentes da Argentina se dividiram entre o macrismo e o kirchnerismo, tornando ainda mais acirrada a corrida presidencial entre os principais pré-candidatos: o presidente Maurício Macri e Alberto Fernández, cuja vice é a ex-presidente Cristina Fernández Kirchner.
Macri escolheu como companheiro de chapa o peronista Miguel Ángel Pichetto, líder do maior bloco da oposição no Senado. O anúncio foi feito pelo presidente nesta terça-feira, no Twitter, e demonstra a estratégia oficialista em se aproximar do peronismo moderado, algo que não estava nos planos da Casa Rosada até pouco tempo atrás. Com a nova aliança, muda até o nome da coligação: termina o "Cambiemos" (Mudemos) e nasce o "Juntos por el Cambio" (Juntos pela Mudança).
"Com esta decisão, Macri se aproxima de peronistas que não gostam da Cristina e, ao mesmo tempo, elimina na prática as chances de uma terceira via", diz Vinícius Vieira, professor de Relações Internacionais da USP e da FGV .
Pichetto é senador, advogado de formação e membro do Partido Justicialista, o mesmo de Cristina. Ele já foi aliado da ex-presidente, mas rompeu com ela e comanda uma ala mais moderada dentro da sigla.
Vieira avalia que um vice que agregue outros líderes provinciais pode ser crucial para Macri vencer a disputa acirrada com Fernández e garantir a governabilidade em um possível segundo mandato. "Ele move-se ao centro tal como Cristina fez, mas por um caminho diferente".
A decisão de Kirchner de abrir mão da disputa pela presidência mudou o cenário político na Argentina em questão de dias. Colocar Fernández, um kirchnerista mais pragmático e com trânsito internacional, como principal candidato da chapa é uma forma de tentar aumentar o teto eleitoral da ex-presidente, que é de aproximadamente 30% – um apoio bastante expressivo, mas ela tem uma rejeição muito grande entre os eleitores e responde a várias acusações de corrupção.
Se por um lado, Pichetto se aliou a Macri, o ex-deputado e peronista Sergio Massa deve oficializar seu apoio à dupla kirchnerista ainda nesta semana. Ele vinha sendo sondado pelos macristas, mas recentemente começou a se mostrar mais inclinado à esquerda. Seu apoio é importante porque, além de ter passe entre os peronistas não-kirchneristas, ele ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais de 2015, tendo conquistado 21% dos votos.
Por conta disso, as opções de "terceira via" ficam mais fragilizadas.
Rearranjo na Alternativa Federal
Há alguns meses, os peronistas do Alternativa Federal tinham uma boa chance de impulsionar a candidatura de uma figura que poderia vencer Kirchner ou Macri, mas a aliança ficou fragilizada depois que Massa e Pichetto abandonaram a coalizão.
Roberto Lavagna - que trabalhou como ministro da Economia durante o governo de Néstor Kirchner, mas que assumiu um posicionamento mais centrista desde o primeiro mandato de Cristina - também havia anunciado que não disputaria pela coligação.
Desta maneira, Juan Manuel Urtubey seria o candidato da Alternativa Federal. Ele foi governador de Salta desde 2007 e, entre os políticos peronistas, é o que mais se aproxima de Macri (centro-direita).
Porém, as novas condições forçaram a coalizão a se reorganizar.
Nesta quarta-feira (12), Lavagna e Urtubey anunciaram que vão se unir para tentar emplacar uma candidatura que possa fazer frente a Macri e Fernández: o primeiro como candidato a presidente e o segundo a vice. A coalizão da "terceira via" vai se chamar "Consenso Federal 2030".
Apesar disso, Vieira acredita que o rearranjo de última hora, por si só, não deve levá-los ao segundo turno.
"Juntos, os dois não teriam a máquina de nenhuma força política significativa. Eles podem tirar votos do Macri no 1º turno, mas não mudam a configuração mais provável do 2º".
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