O presidente da França, Emmanuel Macron, deixou claro ao presidente argentino, Javier Milei, que seu governo não assinará o acordo comercial entre UE e Mercosul "tal como está", por isso pediu uma renegociação visando encontrar um quadro aceitável para todos.
“Não acreditamos no acordo tal como foi negociado”, disse Macron, neste domingo, em uma declaração aos meios de comunicação franceses a partir do aeroporto de Buenos Aires, antes de partir para o Rio de Janeiro para a cúpula do G20.
Acrescentou que em suas reuniões de ontem e hoje com Javier Milei, lhe disse “de forma muito sincera e muito clara que a França não assinaria hoje o acordo com o Mercosul tal como está”.
Macron disse que “descobriu” que existem “vários países do Mercosul que não estão satisfeitos com este acordo”, e que o próprio Milei lhe afirmou “que não estava satisfeito” nem com o acordo nem “com o funcionamento atual do Mercosul".
O mandatário francês afirmou ter explicado a Milei que o acordo, fechado em 2019 mas ainda não assinado e menos ainda ratificado, “seria muito ruim para sua reindustrialização e muito ruim para nossa agricultura”.
Ele reiterou as preocupações francesas com a entrada de carne tratada com hormônios e antibióticos.
“Não podemos dizer aos agricultores franceses e europeus para mudarem as suas práticas, para deixarem de usar certos produtos fitossanitários (…) e ao mesmo tempo abrirem os nossos mercados à importação em massa de produtos que não respeitam os mesmos critérios”, insistiu.
Macron lembrou que o acordo comercial UE-Canadá inclui garantias para impedir a entrada nos mercados europeus de carne produzida com hormonas ou antibióticos. “Essas garantias não temos hoje com o Mercosul”, frisou.
As palavras de Macron surgiram enquanto na França os agricultores intensificaram hoje seus protestos, com bloqueios parciais de estradas, entre outras medidas, para protestar contra a possibilidade do acordo UE-Mercosul avançar.
O presidente francês disse que é necessário um acordo que defina “um bom quadro de investimento que abra alguns setores”, que permita desenvolver a colaboração em questões como materiais estratégicos, como o lítio.
"Mas a agricultura europeia não deve ser sacrificada. Foi o que eu disse. Se formos razoáveis, há um caminho possível, mas não será feito em detrimento da nossa agricultura", afirmou.
Emmanuel Macron explicou que conversou também com Milei sobre o interesse europeu no acesso, “com investimentos significativos”, ao lítio, metal estratégico para a construção das baterias necessárias à transição energética.
O progresso em vários contratos de defesa também fez parte das negociações, bem como as diferenças entre os dois presidentes sobre as mudanças climáticas.
Macron garantiu que Milei não confirmou uma hipotética intenção de abandonar os Acordos de Paris sobre o clima, embora tenha reconhecido que “não temos a mesma visão das coisas em relação ao clima”.
“Expliquei porque consideramos que, em termos de clima e de biodiversidade, é absolutamente necessário avançar, ter uma coordenação internacional”, recapitulou.
Após sua passagem pela Argentina, que começou ontem, Macron viaja ao Rio para a cúpula do G20 e depois concluirá a sua viagem pela América Latina no Chile.
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