O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que terá uma conversa com o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, durante o encontro do G20, na Argentina, e reiterou seu apelo para uma investigação completa da morte de Jamal Khashoggi, um crítico do reino.
“Sempre fui muito claro sobre o caso da Arábia Saudita – e certamente terei a oportunidade de discutir isso com o príncipe herdeiro durante o G20”, disse Macron durante uma coletiva de imprensa conjunta com seu colega argentino Mauricio Macri em Buenos Aires. “A morte do Sr. Khashoggi é um assunto sério, sobre o qual quero que toda a verdade seja exposta”, disse ele.
Durante a reunião com o presidente argentino, Macron afirmou que o futuro da negociação do acordo entre Mercosul e União Europeia depende da posição do novo governo brasileiro, de Jair Bolsonaro.
A aparição do príncipe herdeiro no G20 ocorre em meio a protestos contra o assassinato de Khashoggi e a cúpula avaliará a disposição dos líderes mundiais em associar-se a ele após seu assassinato no consulado saudita em Istambul no mês passado. Nesta quinta-feira, o Canadá sancionou autoridades sauditas em conexão com o assassinato.
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Chefes de Estado das 20 maiores economias do mundo podem discutir a morte do crítico saudita Khashoggi na reunião que começa nesta sexta-feira, informou Macri. O presidente francês disse que vai discutir o caso com seus parceiros europeus em uma reunião de “coordenação” paralela antes do início do G20 de amanhã em Buenos Aires e pediu um “processo internacional” para acompanhar a investigação.
Macron também disse que não tem reunião planejada com o presidente Donald Trump durante a cúpula, mas ele insinuou que eles poderiam ter oportunidade de conversar nos bastidores. Os homens tiveram um almoço bilateral e se reuniram em Paris em 10 de novembro. Ao chegar na América do Sul, ele culpou as políticas de Trump por prejudicar aliados na Europa, dizendo que “decisões recentes foram tomadas em detrimento de seus aliados”.
As tensões entre Macron e Trump são visíveis nos últimos meses. Eles trocaram farpas nas mídias sociais e em entrevistas neste mês sobre a proposta de Macron de um exército europeu. Macron disse hoje que eles tiveram um “diálogo contínuo” pessoalmente ou por telefone, incluindo tópicos de desacordo como clima e comércio.
Parrilla e selfies
Macron tem sido o mais relaxado entre os líderes que já chegaram ao país (também já estão em Buenos Aires o príncipe saudita Mohammed bin Salman e o mexicano Enrique Peña Nieto).
O francês, depois de ter jantado na noite anterior numa “parrilla” (churrascaria), visitou nesta quinta-feira a famosa livraria El Ateneo, na avenida Santa Fe, encontrou-se com a viúva do escritor Jorge Luis Borges (1899-1986), Maria Kodama, e caminhou pelas ruas agitadas da Recoleta, driblando a reforçada segurança para tirar selfies com os que se aproximavam.
Seu bom humor conseguiu nublar a lembrança de sua chegada, na noite de quarta-feira (29), em que uma falha de protocolo fez com que desembarcasse longe da vice-presidente argentina, Gabriela Michetti, que é cadeirante. Com isso, ambos demoraram um pouco a se encontrar na pista do aeroporto. Sempre sorridente, Macron a esperou para cumprimentá-la, mas Michetti reclamou com a equipe de organização do G20 pela gafe de que acabou sendo vítima.
Por sua vez, Macri agradeceu a Macron por ter apoiado o acordo da Argentina com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que está emprestando ao país US$ 57 bilhões. Macron acrescentou que a França também aportará EUR 319 milhões para ajudar a Argentina em sua política de ajustes e com a meta de atingir o déficit fiscal zero em 2019. Macron ainda disse que apoiaria a candidatura da Argentina para que entre na OCDE (entidade que reúne países desenvolvidos).
Os dois mandatários e suas esposas, Brigitte Macron e Juliana Awada, almoçaram juntos numa ilha do rio Tigre, próxima a Buenos Aires.
Trump e Putin
Antes de embarcar, nos EUA, o presidente norte-americano, Donald Trump, decidiu cancelar a bilateral prevista com o líder russo, Vladimir Putin, devido à crise entre Moscou e a Ucrânia desde o sequestro de navios ucranianos e a prisão de oficiais deste país. “Espero que um encontro possa ser realizado logo após de passado esse episódio”, disse o norte-americano, que deve chegar a Buenos Aires na madrugada de sexta-feira (30). O hotel onde ficará instalado, o Four Seasons, na Recoleta, já estava todo cercado e mesmo moradores tinham de se identificar para poder transitar pela rua.
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Não muito longe dali, no hotel Alvear, devem hospedar-se o brasileiro Michel Temer, que chegaria por volta das 20h (21h em Brasília), e o próprio Putin.
A agenda do brasileiro, porém, será magra. Na noite desta quinta, janta com o embaixador brasileiro na capital argentina e, na sexta-feira (30), fará apenas duas reuniões bilaterais, com Singapura e com Austrália.
Na praça diante do Congresso houve manifestação contra o G20, que contou com um Donald Trump inflável. A chuva que castigou a capital argentina, porém, atrapalhou um pouco que uma grande massa se juntasse.
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