O candidato de centro e pró-europeu Emmanuel Macron e sua adversária, a ultradireitista Marine Le Pen, disputarão, em 7 de maio, o segundo turno das eleições presidenciais francesas, um duelo que excluiu da corrida ao Palácio do Eliseu os dois partidos tradicionais do país.
É a primeira vez, em quase 60 anos, que a direita estará ausente do segundo turno e a primeira que não terá representantes dos dois grandes partidos que dominam a política francesa em meio século: os socialistas do presidente François Hollande e os conservadores, rebatizados em 2015 de “Os Republicanos”.
Favorito nesta disputa, Macron, ex-ministro da Economia do presidente socialista François Hollande, concorre pelo “Em Marcha!”, movimento fundado por ele mesmo em 2016. Até o momento, lidera a corrida presidencial e teria 23% a 24% dos votos, à frente da chefe da Frente Nacional, Marine Le Pen, com 21,6% a 23% dos votos, segundo estimativas de três institutos de pesquisa.
Já uma pesquisa de boca de urna do instituto Ipsos, encomendada pela France Télévisions, Radio France e Le Monde, mostra que Macron alcançou 23,7% dos votos, contra 21,7% da segunda colocada, Marine Le Pen. O conservador François Fillon, do partido “Os Republicanos”, ficou em terceiro lugar, com 19,5% dos votos, e o esquerdista do “França Insubmissa”, Jean-Luc Mélenchon, em quarto, com 19,5%. Benoît Hamon, do Partido Socialista, do atual presidente François Hollande, ficou apenas na quinta colocação, com 6,2% do votos, segundo a pesquisa de boca de urna.
Com menos de 30% dos votos, François Fillon e Benoît Hamon alcaçam, somados, o pior resultado da história dos dois grandes partidos de governo francês.
As estimativas de voto divulgadas são baseadas em amostras representativas do próprio pleito, submetidas a um sistema de controle de coerência, e não em sondagens prévias nas urnas. O resultado oficial ainda será divulgado pelo Ministério do Interior.
Caso as estimativas se concretizem, seria um alívio para a União Europeia (UE). Macron, ex-ministro da Economia do presidente socialista François Hollande, fez uma campanha com um programa abertamente europeísta e liberal. No caso da vitória de Le Pen, se aproximaria um período de grande incerteza para a UE, devido a sua defesa da saída da zona do euro, que poderia supor um golpe fatal a um bloco já enfraquecido pelo Brexit.
Apesar da ameaça de atentados extremistas que pairava sobre estas eleições, os franceses não se amedrontaram e compareceram em massa às urnas. A participação foi uma das mais altas dos últimos 40 anos.
A reta final da campanha foi abalada nesta semana por um atentado na emblemática avenida Champs Elysées de Paris e pela descoberta de um atentado iminente, em um país traumatizado por uma onda de ataques extremistas que deixaram mais de 230 mortos desde 2015.
Macron e Le Pen disporão agora de 15 dias para convencer os 47 milhões de eleitores de que são a melhor opção para comandar o país. Aquele que vencer logo terá que criar alianças visando as legislativas de junho, que ocorrem em dois turnos, e que até então favoreceram os partidos tradicionais.
Repercussão
Emmanuel Macron, novato que lidera a disputa, já declarou: “Hoje viramos claramente uma página da vida política francesa”. O candidato, que se eleito será o mais jovem presidente francês da história, quer uma frente ampla de progressistas contra a Frente Nacional. “Consideramos que é crucial trabalhar para obter a maioria mais ampla possível para conseguir uma união de todos os progressistas”, afirmou Macron. Depois, o candidato ainda disse para seus eleitores: “No espaço de um ano, nós mudamos a face da vida política francesa”.
Marine Le Pen, em discurso aos apoiadores, declarou: “Este resultado é histórico, a primeira etapa está superada”. A candidata afirmou que “não escapou a nenhum francês que o sistema o sistema buscou, por todos os meios, sufocar o grande debate político que deveria acontecer nesta eleição. Este grande debate vai enfim acontecer. Os franceses vão agarrar esta oportunidade histórica” e que “os franceses têm a escolha entre a desregulação total e a alternância real”. Sob aplausos, Le Pen disse ainda: “Chegou a hora de libertar o povo francês. Eu sou a candidata do povo. É a sobrevivência da França que está em jogo”. Após o discurso, a candidata cantou a Marselhesa com a multidão.
O candidato conservador, François Fillon, admitiu sua derrota e recomendou voto em Macron. "Não temos outra opção senão votar contra a extrema direita. Portanto, votarei em Emmanuel Macron", declarou Fillon. O coordenador da candidatura de Fillon, Bruno Retailleau, declarou que os resultados representam uma “imensa decepção” para o candidato conservador. "É uma imensa decepção, não pudemos abordar na campanha as dificuldades dos franceses, nem o balanço do [presidente] François Hollande, nem os projetos", lamentou.
O esquerdista Jean-Luc Mélenchon ainda não reconheceu os resultados preliminares e pediu cautela aos eleitores e aos comentadores, lembrando que a diferença de votos entre Le Pen, Fillon e ele próprio é de apenas 2%.
Hamon, candidato da situação, admitiu que os resultados são uma “sanção histórica” contra o Partido Socialista. "Esta derrota é um golpe profundo", disse o socialista, acrescentando que, apesar dos resultados, "a esquerda não está morta". Hamon também pediu voto em Macron no segundo turno para “derrotar o mais fortemente possível a Frente Nacional”.
Bernard Cazeneuve, primeiro ministro da França, pediu votos para Macron: “Eu conclamo solenemente a votarem em Emmanuel Macron no segundo turno para derrotar a Frente Nacional, para impedir o projeto funesto de retrocesso da França e de divisão dos franceses”.
Marion Le Pen, deputada e sobrinha de Marine Le Pen, escreveu no Twitter: “É uma bela vitória para todos os patriotas”. A mais jovem deputada da Assembleia Nacional, de apenas 27 anos, declarou também: “Nos últimos 15 anos, não houve um candidato pró-soberania no segundo turno. Essa é uma grande vitória ideológica”.
Gérard Collomb, prefeito socialista de Lyon, declarou: “Ele [Macron] conseguiu o que poucos esperavam. Quando, um ano atrás, ele lançou seu movimento “Em Marcha!”, as pessoas disseram: ‘É impossível que alguém que não pertence a um partido político possa chegar ao segundo turno’. Isso revela um verdadeiro desconforto na sociedade, com pessoas que não se reconhecem nos partidos tradicionais. Nós estamos, sem dúvida, iniciando uma nova era”.
Confrontos
Pouco após a divulgação das primeiras estimativas, cerca de 300 manifestantes, ditos “antifascistas”, entraram em confronto com a polícia em Paris.
As forças de segurança enfrentaram os manifestantes, posicionados na praça da Bastilha,de acordo com um jornalista da AFP. Os jovens, alguns com toucas ninja, lançaram garrafas e bombas contra os agentes. Três pessoas foram presas, segundo a polícia.
Um organizador pediu, com o microfone em mãos, que se manifestassem “contra Marine [Le Pen] e contra Macron”.
Os manifestantes atendiam um chamado dos movimentos “antifascistas”, que pretendiam organizar uma “noite das barricadas”. As forças de segurança impediram a circulação até esta emblemática praça, situada no leste da capital francesa.
Estimativas para o segundo turno
Emmanuel Macron venceria com folga Marine Le Pen no segundo turno das eleições presidenciais, de acordo com duas pesquisas de opinião realizadas neste domingo, após o anúncio dos resultados do primeiro turno.
Para o instituto Ipsos Sopra Steria, o candidato do movimento “Em Marcha!” obteria 62% dos votos contra 38% para a chefe do partido Frente Nacional. Para o instituto Harris Interactive, a margem seria ainda maior, com 64% dos votos para Emmanuel Macron e 36% para Marine Le Pen.
A festa da direita brasileira com a vitória de Trump: o que esperar a partir do resultado nos EUA
Trump volta à Casa Branca
Com Musk na “eficiência governamental”: os nomes que devem compor o novo secretariado de Trump
“Media Matters”: a última tentativa de censura contra conservadores antes da vitória de Trump
Deixe sua opinião