Com os Jogos Olímpicos de Paris, o presidente da França, Emmanuel Macron, obteve uma trégua na tumultuada vida política do país, que se encontrava num impasse antes das competições começarem na capital francesa.
Dez dias depois do fim do maior evento esportivo do planeta, a França está de volta ao ponto onde estava antes dele começar: sem perspectiva de indicação de um primeiro-ministro capaz de apaziguar as disputas entre esquerda, centro (grupo de Macron) e a direita nacionalista.
A aliança de esquerda Nova Frente Popular (NFP), composta por quatro partidos, foi a vencedora das eleições parlamentares antecipadas na França, realizadas em 30 de junho e 7 de julho, mas não obteve maioria absoluta na Assembleia Nacional (metade dos assentos na casa, mais um).
Como a NFP, a coalizão de Macron, segunda colocada na eleição, e o partido de direita nacionalista Reagrupamento Nacional, terceiro colocado, não dialogam entre si, a França vive uma crise política, pois qualquer nome que o presidente indicar para ser primeiro-ministro e formar o governo ficará sujeito a ser derrubado por um voto de desconfiança na Assembleia Nacional.
Poucos dias antes da Olimpíada de Paris começar, a NFP havia indicado Lucie Castets, diretora financeira da prefeitura de Paris, como candidata a premiê, após semanas de impasse.
Porém, usando como pretexto a necessidade da França se “concentrar” nos Jogos Olímpicos, Macron rejeitou a indicação e disse que em meados de agosto iria “nomear um primeiro-ministro com o mais amplo apoio possível”.
Na sexta-feira (23), o presidente se reunirá com líderes partidários para debater nomes para o cargo de premiê, e um escolhido deve ser anunciado na semana que vem.
Porém, a extrema esquerda já descartou apoiar qualquer indicado que não seja Castets. Em artigo para o jornal Tribune de Dimanche, Jean-Luc Mélenchon, líder do partido França Insubmissa, pediu que a Assembleia Nacional aprove o impeachment de Macron caso ele não indique a candidata da NFP, já que, segundo ele, isso representaria uma indicação “sem levar em conta o resultado das últimas eleições”.
O ministro interino do Interior, Gérald Darmanin, disse que a ameaça de impeachment é a manifestação de um “desejo da extrema esquerda de mergulhar a França na anarquia”.
Do lado da direita nacionalista, a líder do Reagrupamento Nacional, Marine Le Pen, questionou no X a presença de Lucie Castets, requisitada pela NFP e que Macron não vetou, nas conversas com o presidente na sexta-feira.
“Em que qualidade Lucie Castets pretende participar da reunião de sexta-feira no Palácio do Eliseu, reunindo líderes dos partidos e os presidentes dos grupos parlamentares da Assembleia Nacional e do Senado?”, escreveu Le Pen.
“Ela não é deputada, nem líder de partido, nem presidente de bloco. É imposta pela coligação minoritária da NFP. É uma decisão que equivale a uma tomada de poder”, criticou.
A imprensa francesa especula que Macron planeja escolher um nome entre a centro-esquerda e a centro-direita para premiê, para diminuir as chances de rejeição.
Entre os nomes cogitados, estão os de Xavier Bertrand, ex-ministro do Trabalho, Emprego e Saúde na gestão do conservador Nicolas Sarkozy; o socialista Bernard Cazeneuve, que foi primeiro-ministro por alguns meses no governo François Hollande; Valérie Pécresse, candidata conservadora derrotada nas eleições presidenciais de 2022; e o socialista Karim Bouamrane, prefeito de Saint-Ouen-sur-Seine, cidade na região de Paris, que é crítico do França Insubmissa, aliado do seu partido na NFP, e que já foi chamado de “Obama do Sena”.
Resta saber se qualquer um deles ou qualquer nome fora dessa lista terá capacidade de sobreviver politicamente após ser indicado na semana que vem.
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