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Eleições em Ilha da Madeira

Madeira desafia Lisboa, os credores internacionais e a crise

O escândalo da omissão da dívida da Ilha da Madeira e seu efeito na frágil economia de Portugal dominam as eleições deste domingo (09) nas ilhas que não trocam de governante há 33 anos e agora desafiam Lisboa, a missão internacional que concedeu ajuda e a crise.

Alberto João Jardim, advogado de 68 anos que venceu todas as eleições no arquipélago desde que a Revolução de 25 de Abril de 1974 a transformou em região autônoma, é o favorito com folga nas pesquisas para achatar, mais uma vez, a oposição socialista.

O polêmico político conservador nunca chegou a uma eleição regional tão desacreditado perante o eleitorado, tampouco tão carente de apoio dentro do próprio partido, o Social Democrata (PSD, centro-direita), que governa também Portugal desde junho.

Jardim fechou sua campanha eleitoral bradando que a troika não entrará na Madeira, uma alusão direta ao duro ajuste econômico imposto ao país pelos três organismos que negociaram o resgate financeiro de Portugal em maio, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional.

A missão internacional ressaltou a grave ameaça que representa para a saúde da economia lusa as dívidas omitidas pelo Governo de Jardim, que deve ao todo mais de 6 bilhões de euros e obrigou a revisar para cima o déficit de Portugal quando o país tenta desesperadamente reduzi-lo.

Mas o polêmico líder ilhéu, que seus rivais definem como cacique, nega qualquer abuso e justifica em questões contáveis a necessidade de impulsionar o desenvolvimento do arquipélago ao que o Governo central, de seu próprio partido, classificou em Lisboa de "graves irregularidades".

O Instituto Nacional de Estatística luso e o Banco de Portugal revelaram em setembro que havia um desvio superior a 1 bilhão de euros nas finanças da Madeira omitidos por seu Governo, e o Executivo central anunciou na semana passada que será preciso adotar novas medidas de austeridade para cobrir esse buraco.

A crise econômica que vive Portugal e os compromissos que teve de assinar para evitar a quebra com empréstimo internacional de 78 bilhões de euros, obrigaram o Governo conservador de Pedro Passos Coelho a aplicar as medidas econômicas mais duras que os portugueses têm lembrança.

O Estado, que suporta a metade da economia lusa agora em plena recessão, congelou as obras e investimentos e o salário dos funcionários.

Enquanto isso, empresas públicas são privatizadas e a inflação continua em ascensão, assim como o IVA, o imposto de renda, os transportes públicos, o gás e a luz.

A maioria das famílias portuguesas sofre com o aumento do desemprego, mas perderão também metade do salário do Natal com o novo imposto destinado a reduzir o déficit nacional que a Madeira fez subir de 9,1% para 9,8% nas contas de 2010, revisadas por culpa das irregularidades nas ilhas.

Nunca Portugal tinha estado tão pendente de eleições na distante e paradisíaca Madeira, que fica a 1 mil de quilômetros da capital e apenas abriga 265 mil dos mais de 10,5 milhões de habitantes do país.

Em aberto desafio ao Portugal temeroso do já anunciado endurecimento da política de austeridade do Governo central por culpa do excesso de despesa madeirense, Jardim defendeu sua política financeira e se mostrou decidido a não emendá-la.

Os principais líderes do PSD, desde o presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, ao primeiro-ministro Passos Coelho, censuraram a gestão do arquipélago, e o partido em Lisboa se mostrou mais distante do que nunca de sua campanha eleitoral.

Mas Jardim segue à frente de todas as pesquisas com suas justificativas contra as supostas tentativas de Lisboa de "impor-se" a vontade dos madeirenses e desacreditar com "sujas mentiras".

Ao outro lado do oceano estas eleições se transformaram em um dilema para Passos Coelho, cujo partido, com apenas quatro meses no poder, pode sofrer uma amarga vitória se for perpetuado pelas urnas o mais turrão dirigente regional.

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