Os primeiros 100 dias da morte do líder venezuelano Hugo Chávez foram marcados pela instabilidade econômica e política e pela tentativa do herdeiro político do bolivariano, Nicolás Maduro, de contorná-la. A dura eleição contra o líder opositor Henrique Capriles, a alta da inflação decorrente da desvalorização do bolívar e da escassez de produtos básicos fizeram Maduro adotar uma linha mais pragmática, segundo analistas.

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Com menos de um mês da morte de Chávez, Maduro enfrentou uma disputa acirrada nas urnas contra Capriles. A vitória chavista pela estreita margem de 1,5 ponto porcentual abriu espaço para a Mesa de Unidade Democrática (MUD) - coalizão de partidos opositores venezuelanos - protestar contra o resultado e exigir uma recontagem. Houve denúncias de fraude. Os protestos dos dias que se seguiram à eleição foram controlados pelo governo e a recontagem foi refeita parcialmente pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE), que referendou a vitória de Maduro.

Nas semanas seguintes à eleição, a oposição contra-atacou com uma denúncia que tentou expor uma longa divisão entre as bases chavistas. Foi vazada para a imprensa uma gravação do jornalista chavista Mario Silva, então apresentador do programa La Hojilla, na TV estatal, com Aramis Palacios, do serviço secreto cubano, na qual o comunicador alerta para uma suposta ruptura no interior do chavismo em razão da insatisfação com Maduro.

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Entre os conspiradores de um plano para derrubar o herdeiro político de Chávez estariam o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, e o ministro da Defesa, Diego Molero.

Silva acusou a CIA de ter feito uma montagem, mas nem mesmo os chavistas aceitaram sua versão. Ele saiu do ar depois de jurar lealdade ao presidente. Maduro tentou contornar a crise aparecendo em público ao lado de Cabello durante exercícios militares. "O chavismo tem graves tensões internas com as quais tem dificuldade de lidar. Isso não é aberto publicamente, mas transparece em episódios como o de Mario Silva ou em trocas de ministros e diretores de estatais", diz o analista Omar Noria, da Universidade Simón Bolívar. "No começo, Maduro tentou emular Chávez e apelou para sua imagem, mas não tem o mesmo carisma dele. A política econômica, lentamente, começa a se transformar."

Na economia, os dois maiores desafios são a alta da inflação e a crise de desabastecimento. Chegou a faltar papel higiênico nos mercados e produtos como azeite, farinha de trigo e produtos de higiene são escassos. Em Zulia, o governo impôs uma restrição de consumo, para "controlar o contrabando de produtos básicos" na fronteira com a Colômbia.

A escassez, derivada, em parte, da falta de dólares à disposição de importadores para compras no exterior, diminuiu depois que Maduro acenou aos empresários com uma aproximação e facilitou a compra da moeda americana. A substituição de Jorge Giordani por Nelson Merentes no Ministério da Economia teria imprimido uma administração mais objetiva da economia.

"O governo tem sido mais pragmático, tentando estabilizar a economia, além de tentar sanar a crise de infraestrutura e a violência urbana", diz Oscar Reyes, consultor do canal chavista TVES. "Certamente, o governo recorda o discurso de Chávez, mas as medidas são mais pragmáticas. Nicolás sabe que, além da ideologia, precisa de resultados." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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