O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta quinta-feira (22) que o Banco Central cortará, a partir de 4 de junho, três zeros do bolívar, depois de um ano em que a moeda perdeu mais de 99% de seu valor.
O anúncio é feito no momento em que faltam cédulas no país caribenho, o que levou à cobrança de ágio para ter as cédulas, e fez com que o regime tivesse de parcelar o pagamento de aposentadorias e benefícios sociais.
Com a mudança, que chamou de "reconversão monetária", ele disse que o bolívar forte, lançado em 2008 por Hugo Chávez (1954-2013) com três zeros menos que o então bolívar, passa a ser denominado bolívar soberano.
Para ele, a retirada dos zeros acabará com a hiperinflação. "Vamos começar processos sérios de fortalecimento do bolívar e do petro [moeda virtual] em perfeita harmonia e comunhão pela estabilidade política do páis."
Na nova família de notas, a maior delas será a de 500 bolívares. Se o corte dos zeros fosse feito nesta sexta-feira (23), a maior cédula equivaleria a R$ 7 no câmbio paralelo ou R$ 45 na taxa dos leilões estatais de moeda estrangeira.
Com 652% de inflação em 2017 e de 2.350% em 2018, segundo o FMI, porém, o valor deverá ser menor. Segundo a oposição, o aumento de preços no ano supera os 200% -o chavismo não divulga estatísticas desde 2015.
Previsão: fracasso
A medida é comum à tomada pelos governos do Brasil e da Argentina durante as ditaduras militares e nos primeiros anos da nova era democrática e foi interrompida na década de 1990 pela paridade de 1992, no caso argentino, e em 1994 pelo Plano Real no brasileiro.
Para analistas, a medida fracassará se não houver correção do modelo econômico chavista. "Tirar zeros da moeda sem resolver o problema hiperinflacionário não vai servir de nada", disse à AFP o economista Asdrúbal Oliveros.
A nova família substituirá a lançada em 2016, cujas cédulas acabam devido à impressão mais lenta que a inflação. O regime só permite o saque de 10 mil bolívares diários, um décimo do que custa um café em Caracas.
O bolívar soberano entrará em circulação duas semanas depois das eleições presidenciais, em que Maduro deverá se manter no cargo em um pleito esvaziado de opositores e sem apoio da comunidade internacional.