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Membro do CNE denuncia irregularidades no órgão e diz que não recebeu evidências da vitória de Maduro
O ditador Nicolás Maduro e o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, o chavista Elvis Amoroso| Foto: EFE/Ronald Peña R.

Um dos membros do alto escalão do chavista Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Juan Carlos Delpino, emitiu um comunicado em sua conta no X nesta segunda-feira (26) denunciando graves irregularidades que ocorreram no processo eleitoral venezuelano que culminou na “reeleição” do ditador Nicolás Maduro em 28 de julho.

No comunicado, Delpino afirmou que não recebeu evidências suficientes para corroborar os resultados anunciados por Elvis Amoroso, o aliado de Maduro que preside o CNE e deu a vitória ao ditador, destacando uma série de falhas no processo eleitoral e na apuração dos votos.

Delpino também expressou sua preocupação com a falta de transparência do processo eleitoral, destacando que a interrupção na transmissão dos votos e a expulsão de testemunhas da oposição dos centros de votação afetaram gravemente a integridade do processo. Ele também criticou a decisão do órgão de não publicar os resultados "mesa por mesa", como é tradicional, o que, segundo ele, contribuiu para a incerteza e desconfiança entre a população e a comunidade internacional.

“Com mais de 20 anos de experiência em cargos técnicos e como Reitor do CNE, posso afirmar que, durante a jornada eleitoral, o processo se desenvolveu com relativamente poucas incidências relatadas até às 17h, momento em que se projetava uma participação entre 60% e 65% do registro eleitoral, segundo a opinião dos especialistas. Após o fechamento das mesas de votação, evidenciou-se o descumprimento de normas e regulamentos, com incidentes essenciais relatados, como o despejo de testemunhas da oposição durante o fechamento das mesas, o que constituiu uma violação direta dos princípios de equidade e dos direitos dos eleitores a terem acesso às atas de votação, comprometendo a legitimidade do processo nesses centros de votação”, escreveu Delpino.

“De acordo com os protocolos, a transmissão dos resultados deveria ser feita imediatamente após o fechamento das mesas. No entanto, foi nesse período que a transmissão foi interrompida e tal interrupção foi justificada por um suposto hackeamento, havendo silêncio e uma demora não explicada”, disse no comunicado. “Apenas às 21h [horário de Caracas], fui informado do suposto hackeamento, o qual alegava ter afetado gravemente a transmissão dos resultados, reduzindo a transmissão efetiva para 58%. Este evento supostamente impediu a emissão do primeiro boletim no momento adequado, mantendo o país em uma espera injustificada”, alegou Delpino.

“Diante do despejo de testemunhas em vários centros [de votação], da falta de transmissão do código QR para os centros de dados dos comandos e da falta de solução efetiva para o suposto hackeamento, tomei a decisão de não subir à sala de totalização e de não assistir ao anúncio do primeiro boletim. Como reitor principal, ao não comparecer à sala de totalização, careço das evidências que respaldam os resultados anunciados”, escreveu no comunicado. "No dia 29 de julho, recusei o convite do presidente do CNE para comparecer ao ato de proclamação, mantendo minha posição de desacordo com a falta de transparência no processo. Esta decisão baseia-se no meu compromisso com a integridade eleitoral e na minha responsabilidade de garantir que os resultados reflitam a verdadeira vontade do povo venezuelano. Especialistas internacionais concordaram que os eventos descritos não atendem aos padrões nacionais e internacionais de transparência e legalidade", disse Delpino.

Além das questões relacionadas ao dia da eleição, Delpino também apontou em seu comunicado irregularidades que ocorreram dias antes do pleito de 28 de julho. Ele mencionou a exclusão de partidos políticos que, segundo ele, possuíam maior percentual de votos nas eleições anteriores, também criticou a falta de reuniões regulares do CNE, que comprometeram o funcionamento efetivo do órgão. Delpino também disse que se opôs à decisão do CNE de excluir observadores internacionais, como a missão da União Europeia, que ele considerava como essencial para garantir a transparência do processo eleitoral.

Sobre a convocação de recursos apresentados à Câmara Eleitoral do Supremo da Venezuela, Delpino afirmou que optou por não comparecer as audiências que ratificaram a vitória do chavismo, argumentando que a resolução dos conflitos deve ser realizada dentro do próprio organismo eleitoral, neste caso o CNE.

“[...] Considero que a resolução do conflito deve ocorrer dentro do próprio organismo eleitoral, convocando técnicos e peritos eleitorais para cotejar as atas que o CNE possui desde o dia da eleição, com as que têm os diferentes comandos de campanha, e que estas sejam auditadas por observadores internacionais e certificadas de forma independente”, disse Delpino.

Delpino, que já morou nos EUA, também expressou suas preocupações durante uma entrevista ao jornal americano New York Times, onde disse que o CNE “falhou” com a Venezuela.

"Sinto vergonha e peço desculpas ao povo venezuelano. Porque todo o plano que foi elaborado, para realizar eleições aceitas por todos, não foi alcançado”, disse ele ao Times.

Segundo o jornal americano, o funcionário está escondido dentro da Venezuela, com medo de represálias do regime chavista.

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