O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta semana uma série de ações para “desmembrar” as “máfias da corrupção que se instalaram em importantes setores do aparato econômico, do aparato judiciário e do aparato político” do país.
Por enquanto, as autoridades prenderam 19 funcionários supostamente ligados a atos de corrupção, dos quais cinco tiveram as identidades divulgadas: o ex-chefe da Superintendência de Criptoativos (Sunacrip) Joselit Ramírez, o deputado pró-governo Hugbel Roa, cuja imunidade parlamentar foi suspensa na terça-feira (21), dois juízes e um prefeito chavista.
Em relação às investigações sobre supostos atos “graves” de corrupção na estatal petrolífera PDVSA, o ministro do Petróleo, Tareck El Aissami, renunciou ao cargo, “com o objetivo de apoiar, acompanhar e respaldar integralmente este processo”.
“A Revolução Bolivariana enfrenta a corrupção com uma posição firme e contundente. É uma luta constante pela defesa da moral e da ética bolivarianas”, afirmou o ditador venezuelano, em mensagem publicada em sua conta no Twitter.
Apesar desse virulento discurso anticorrupção, analistas apontam que na verdade Maduro não está interessado em combater malfeitos – assim como o chinês Xi Jinping fez desde que chegou ao poder, seu objetivo real é sufocar dissidências políticas e eliminar adversários dentro do próprio chavismo.
Em entrevista ao site Infobae, Andrés Izarra, ex-ministro das Comunicações do governo Hugo Chávez (1999-2013) que está exilado na Alemanha, classificou o expurgo promovido por Maduro como um movimento de uma “guerra entre máfias”.
“Tareck El Aissami, que era ministro do Petróleo até agora e que acabou de renunciar, era uma pessoa muito poderosa dentro da estrutura do madurismo. Ele não foi apenas presidente da PDVSA, o que lhe deu muito acesso aos principais recursos que o país possui, mas também controlava uma importante estrutura política. Havia vários governadores que eram da equipe dele, ministros... Ou seja, controlava poder dentro do Executivo, poder econômico, serviços de inteligência, forças armadas...”, disse Izarra, que acrescentou que o ex-ministro do Petróleo, alvo de sanções dos Estados Unidos, também mantinha importantes relações internacionais, principalmente “com os russos, turcos, sírios, com o Hezbollah...”.
Assim como Vladimir Putin autoriza que oligarcas russos dividam as benesses do poder, desde que não queiram tirá-lo do trono, Maduro sempre permitiu que integrantes do seu círculo próximo se aproveitassem da estrutura criminosa montada no coração do governo venezuelano, “mas não que disputem o poder com ele”, segundo Izarra.
Nesse sentido, um expurgo dentro do chavismo teve início para conter “um poder muito grande que havia sido construído à sombra dele [de Maduro]”. “Agora, Nicolás está atrás da cabeça de Tareck El Aissami para decapitar esse poder”, disse o ex-ministro.
Expurgos em 2017
Antonio de la Cruz, diretor executivo da organização independente Inter American Trends, apontou em artigo para o site do El Nacional que expurgos não são novidade para Maduro: em 2017, ele investiu contra Rafael Ramírez, ex-presidente da PDVSA e ex-ministro do Petróleo de Hugo Chávez.
Na ocasião, o Ministério Público (o Judiciário venezuelano é totalmente subserviente a Maduro) abriu uma “investigação criminal” contra Ramírez por documentos que supostamente o incriminavam “como sócio direto em operações de intermediação de compra e venda de petróleo”. Houve prisões e 65 funcionários da estatal petrolífera venezuelana foram demitidos.
Se à época o objetivo era esvaziar descontentamentos internos a respeito da hiperinflação, que chegou a inacreditáveis 130.060% em 2018, e de um declínio macroeconômico de cerca de 80% a partir de 2012, Maduro agora enfrenta protestos de professores e outros funcionários do setor público devido ao aumento dos preços, que está aproximando o país novamente da hiperinflação e corroendo a renda da população venezuelana.
Isso às vésperas de uma eleição presidencial, que deve ser realizada em 2024 (provavelmente com os níveis conhecidos de falta de transparência e confiabilidade).
“Maduro precisa resgatar a ligação com as bases do PSUV [partido governista] para enfrentar a eleição presidencial. Desta vez, ele teve que entregar a cabeça de alguém de seu círculo íntimo, porque El Aissami é para Maduro o que Ramírez foi para Chávez. Eles são cúmplices dos crimes que cometeram juntos”, destacou Cruz. “Maduro mais uma vez usa o combate à corrupção para fins políticos.” (Com Agência EFE)
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