O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro| Foto: EFE/ Ronald Peña R.
Ouça este conteúdo

Hugo Chávez emergiu no panorama político em 1992, liderando uma tentativa fracassada de deposição do então presidente Carlos Andrés Pérez, acompanhado de um contingente de militares insurretos. A tentativa falhou, resultando na prisão de Chávez e seus comparsas. No entanto, esse evento impulsionou sua figura ao estrelato nacional, gerando uma robusta base de apoio popular. Em 1997, Chávez orquestrou a formação de uma coligação envolvendo partidos de esquerda e centro-esquerda para concorrer à presidência, adentrando assim o que Friedrich Hayek denominaria de "Caminho da Servidão". 

CARREGANDO :)

Nicolás Maduro, seu sucessor, adotou com rigor o mesmo roteiro delineado por Chávez. Imediatamente antes das eleições, a televisão estatal veiculou um documentário enaltecedor, exaltando Chávez e sua contribuição para a edificação da Revolução Bolivariana ou o "Socialismo do século XXI", conforme ele mesmo designava. A intenção era clara: fortalecer o regime através da elevação de Chávez à condição de figura mítica, enquanto Maduro reconhece a necessidade contínua de propaganda para sustentar seu governo.

A retórica socialista é uniforme, independentemente de lugar. Inicialmente, seus proponentes se apresentam como candidatos populistas, alcançando elevada popularidade e agregando diversos segmentos da sociedade — desde militares, religiosos, intelectuais, imprensa até nacionalistas e socialistas. No entanto, à medida que as políticas socialistas falham em promover o crescimento econômico prometido, notícias de tentativas de golpes de Estado começam a surgir. O descontentamento popular cresce, culminando em protestos. Segundo o discurso oficial, tais manifestações representam ameaças à estabilidade econômica. 

Publicidade

Os próximos atos são bem conhecidos. Primeiramente, um governo precisa ser "firme" para estabelecer a ordem, o que normalmente significa começar a reprimir aquelas liberdades incômodas como a expressão e o direito de portar armas. Pegue a Venezuela, por exemplo: eles foram tão longe em suas políticas de desarmamento que até estilingues foram banidos.  

No Brasil, o governo Lula tentou seguir o mesmo roteiro, mas foi ridiculamente frustrado pela incompetência de sua sucessora, que acabou sofrendo um impeachment pelo Congresso. Isso abriu a porta para a eleição de Bolsonaro, impedindo que o roteiro fosse encenado com todos os atos.

A retórica socialista é persistentemente previsível: identifica e demoniza os chamados inimigos internos — rotulando-os como fascistas, direitistas ou nacionalistas — que supostamente obstaculizam o glorioso processo revolucionário. Ao mesmo tempo, volta suas armas retóricas contra adversários externos como o imperialismo, a dívida externa e as sanções econômicas, pintando-os como as verdadeiras ameaças ao bem-estar do povo.

Este mecanismo de defesa é uma constante. Cuba, há décadas, atribui a extrema pobreza e as dificuldades econômicas ao embargo norte-americano, apresentando-o como o vilão principal de sua tragédia econômica. Enquanto isso, a Venezuela, em uma situação igualmente desesperadora, culpa sanções internacionais pelas altíssimas taxas de inflação e pela vertiginosa desvalorização de sua moeda, o bolívar, levando a abruptas mudanças em sua política econômica. Em ambos os casos, esses regimes desviam a atenção do fracasso de suas próprias políticas econômicas, usando essas acusações como um escudo para encobrir a ineficácia e as falhas do socialismo em proporcionar prosperidade ou estabilidade. 

À medida que regimes socialistas consolidam seu poder, eles invariavelmente assumem controle sobre instituições cruciais como o judiciário, os militares e o círculo intelectual. A retórica empregada por esses governos se torna progressivamente mais radical. Assim, fundadas sobre bases aparentemente sólidas, essas administrações alcançam o ápice de seu domínio, que é ao mesmo tempo trágico e absoluto. E então, conforme Ludwig von Mises já havia meticulosamente exposto em sua seminal obra "O Cálculo econômico em uma sociedade socialista", o sistema inicia seu colapso inevitável. Diante desses fracassos, os apologistas destes regimes rapidamente alegam que o que se manifesta não é o "verdadeiro socialismo". 

Publicidade

Setores da imprensa brasileira já estão reescrevendo a narrativa, alegando que Maduro teria se desviado para a direita, corrompendo os ideais do socialismo do século XXI. Esta é uma tentativa ridícula de desvincular-se do fracasso óbvio, proclamando que Maduro "não é de esquerda", uma manobra que soa mais como uma piada. É amplamente conhecido que tanto Maduro quanto Lula são figuras centrais no socialismo latino-americano, ligados pelo Foro de São Paulo, uma organização fundada por Lula, Fidel Castro e Hugo Chávez.

Recentemente, o Senador do Amapá, Randolfe Rodrigues, tentou de maneira patética dissociar-se de Maduro em um vídeo, alegando que agora Maduro segue os passos de Bolsonaro. Esse tipo de estratégia envolve a criação de um inimigo fictício para desviar a atenção das falhas de seus próprios aliados ideológicos.  

Maduro, sempre pronto para um espetáculo, soltou um vídeo “bombástico” alegando que Elon Musk, não contente em revolucionar o transporte e a exploração espacial, decidiu hackear o sistema eleitoral venezuelano, impedindo a divulgação das atas eleitorais.

O mais alarmante é que, com o agravamento da situação, a Venezuela caminha para uma possível guerra civil. Muitos já perderam suas vidas nos protestos, e o futuro é incerto. Resta-nos apenas esperar e torcer para que o pior possa ser evitado, enquanto refletimos sobre as previsões de Ludwig von Mises: o socialismo, independentemente de como seja mascarado, está fadado ao fracasso devido às suas próprias contradições internas.

Isaias Lobão é professor de História e Teologia. 

Publicidade