Diplomacia
Chanceler venezuelano comemora negativa da OEA sobre missão
Folhapress
O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Elías Jaua, comemorou ontem que a Organização dos Estados Americanos (OEA) não enviará uma missão ao país. A ideia de enviar uma delegação foi sugerida pelo Panamá e duramente criticada pelo governo venezuelano, que cortou relações com o país centro-americano. A medida foi rejeitada na madrugada de ontem, devido à falta de consenso entre os países-membros. A decisão foi tomada após pressão da própria Venezuela e de aliados do país, como Nicarágua, Equador e Bolívia. Também foi rejeitada uma reunião de chanceleres para discutir a crise. O governo de Maduro vê a ação da OEA como uma intervenção dos EUA, a quem acusa de ajudar a oposição a fazer um golpe de Estado contra ele.
Contexto
Os protestos na Venezuela começaram no dia 12 de fevereiro com uma passeata convocada por estudantes e opositores que terminou em violência e na qual morreram três pessoas e dezenas ficaram feridas. Foi o estopim para que ocorressem novas manifestações, concentrações, enfrentamentos e barricadas.
20 mortos
As manifestações em cidades venezuelanas deixaram até o momento 20 mortos e pelo menos 300 feridos, segundo dados oficiais. A violência voltou a marcar os protestos na última quinta-feira, com mais duas mortes que o governo atribuiu a grupos "fascistas".
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, aceitou dar uma entrevista exclusiva à Christiane Amanpour, da CNN, que viajou a Caracas para a conversa. O programa foi exibido ontem pela rede de tevê. Na entrevista, Maduro pede que o presidente americano Barack Obama respeite o governo venezuelano, caso contrário pode acabar num "beco sem saída".
"O que aconteceria nos Estados Unidos se algum grupo dissesse que vai tramar contra o governo Obama, para que ele renuncie, para mudar o governo constitucional dos EUA? Seguramente o Estado reagiria, utilizaria toda a força da lei para restabelecer a ordem", disse Maduro.
A entrevista ocorreu em uma semana particularmente intensa para Caracas. Além do aniversário de um ano da morte do ex-presidente Hugo Chávez, com vários eventos na última quarta-feira, o país viu a violência recrudescer no dia seguinte, quando duas pessoas morreram em decorrência de protestos.
Minoria
Questionado por Amanpour sobre os distúrbios violentos que ocorrem no país há quase um mês, Maduro insistiu que os que protestam contra ele são uma "minoria".
"Os que anteciparam este plano violento são uma minoria, um grupo pertencente à oposição, que colocou em apuros o restante dos dirigentes políticos da oposição", disse o líder venezuelano.
Amanpour, conhecida pela disposição em fazer as perguntas mais difíceis sem nenhum melindre, começou dizendo "bem-vindo à CNN" para Maduro, que ameaçou expulsar do país um grupo de jornalistas da rede, mas voltou atrás na decisão.
A correspondente citou os comentários de Maduro sobre uma "conspiração" dos EUA contra Caracas e emendou: "O senhor realmente acredita nisso? Que eles [a Agência Nacional de Segurança e o Pentágono] querem conquistar a América Latina?".
"É claro que acredito", respondeu o venezuelano.
Em outro momento, Amanpour pede que o presidente reconte a história do passarinho que Chávez teria usado para se manifestar para ele, usada durante a campanha eleitoral. "Todo mundo tem as suas crenças e eu tenho as minhas. (...) Depois que contei essa história, eles [a oposição] começaram a me chamar de louco".
Unasul
O presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou uma reunião de presidentes e chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para tratar da Venezuela. O encontro do bloco será realizado na próxima terça-feira no Chile, aproveitando a cerimônia de posse de Michelle Bachelet como presidente do país.
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