Em uma operação dramática, o vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Edgar Zambrano, foi preso na quarta-feira (8) pelo Serviço de Inteligência da Venezuela (Sebin), a força policial usada pelo ditador Nicolás Maduro para perseguir os seus inimigos. Zambrano se junta assim à longa lista de presos políticos do regime chavista.
A oposição ao regime de Maduro garante que não vai desistir da batalha após a prisão de mais uma figura importante do movimento.
Aliado do presidente interino Juan Guaidó, Zambrano foi o primeiro deputado preso após ter apoiado a tentativa fracassada de levante no dia 30 de abril. Na quinta-feira, os agentes cercaram o veículo em que Zambrano estava e o guincharam, com o deputado dentro, até o presídio.
A operação foi condenada na Venezuela e fora dela. O secretário geral da ONU, António Guterres, expressou nesta quinta-feira sua preocupação com a detenção do deputado, e afirmou que a prisão de opositores complica a tentativa de alcançar uma saída pacífica e negociada para a crise.
Detenções políticas
A prisão de opositores se torna cada vez mais comum à medida que a crise da Venezuela se aprofunda e o impasse entre Maduro e Guaidó se agrava. Só em 2019, o país já registrou mais de 2.000 detenções por motivos políticos.
Um levantamento da ONG venezuelana Foro Penal divulgado na terça-feira (7) revela que foram registradas 2.014 detenções de civis e militares por motivação política somente neste ano, e que mais de 800 pessoas continuam presas. O principal motivo para as detenções é a participação em protestos.
Após a tentativa de derrubar Maduro liderada por Guaidó nos dias 30 de abril e 1º de maio, o Tribunal Supremo de Justiça, órgão chavista, ordenou um julgamento contra dez deputados envolvidos nas manifestações. Em seguida, a Assembleia Nacional Constituinte, composta somente por aliados de Maduro, retirou a imunidade parlamentar desses deputados.
Depois de terem a imunidade parlamentar retirada, três deputados da Assembleia Nacional buscaram refúgio em embaixadas. Um deles, o deputado Americo de Grazia se refugiou na embaixada da Itália, nesta quinta-feira.
Pelo Twitter, Grazia disse: "Não darei para a narcoditadura o gosto de me exibirem como troféu e me usaram como refém, em troca de perdoar seus crimes contra a humanidade, violação de direitos humanos, corrupção, narcotráfico e terrorismo. Sigo na luta."
O chavismo comemorou a prisão de Zambrano. Diosdado Cabello, o número dois do regime de Maduro, disse nesta quinta-feira que a prisão do deputado "nos anima, nos aumenta o moral".
Zambrano provavelmente foi levado para a sede do Sebin, conhecida como "El Helicoide", o infame presídio para inimigos políticos de Maduro em Caracas.
No ano passado, os presos políticos na sede do Sebin fizeram protestos para denunciar graves violações de direitos humanos nos calabouços do Helicoide. São muitos os relatos de tortura e de condições precárias.
Militares desaparecidos
Em uma coletiva de imprensa na terça-feira em Caracas, o vice-presidente da ONG Foro Penal, Gonzalo Himiob Santome, denunciou que militares que participaram dos eventos de 30 de abril e 1º de maio estão desaparecidos.
As manifestações daqueles dias tiveram a participação de militares, que usaram faixas azuis para identificar o seu apoio a Juan Guaidó. "Estão desaparecidos. As autoridades, seus superiores hierárquicos, se negam a dar informação sobre o paradeiro destes militares", disse Santome durante a coletiva, segundo jornais venezuelanos.
"Desde 30 de abril, são 82 privados de liberdade das 338 pessoas que foram detidas em protestos. No total, há 857 presos políticos no país", disse Alfredo Romero, diretor do Foro Penal, na coletiva de imprensa.
Segundo a organização, desde 2014, mais de 14.900 pessoas foram presas arbitrariamente por motivos políticos, 857 presos políticos e 8.451 pessoas seguem sujeitas a processos penais injustos em liberdade condicional.
Também durante os últimos protestos, dois adolescentes, de 14 e 15 anos, morreram por disparos de arma de fogo, segundo Romero.