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“Sem perdão”

Maduro manda manifestantes para presídios antes controlados por gangues e famílias se desesperam

O presídio de Tocuyito, no estado de Carabobo, foi uma das unidades supostamente de segurança máxima para onde presos nas manifestações pós-eleitorais foram levados (Foto: EFE/Rayner Peña R)

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A ditadura de Nicolás Maduro reagiu com extrema violência aos protestos questionando a fraude na eleição presidencial de 28 de julho na Venezuela. Mais de 2,4 mil pessoas foram presas e ao menos 27 foram mortas na repressão chavista, e várias famílias vivem o drama de desconhecer as condições em que seus parentes estão detidos.

A situação é ainda mais dramática para os familiares dos mais de 700 detidos levados para as prisões supostamente de segurança máxima de Tocuyito, no estado de Carabobo, e Tocorón, no estado de Aragua.

“Temos 2 mil presos capturados e de lá vão para Tocorón e Tocuyito, castigo máximo, justiça. Desta vez não haverá perdão, desta vez o que haverá é Tocorón”, disse Maduro durante uma marcha chavista em Caracas no início de agosto.

Apesar dos presídios de Tocorón e Tocuyito serem apontados como de segurança máxima, em setembro e outubro do ano passado a polícia e as forças armadas tiveram que realizar operações para recuperar o controle das duas unidades, então tomadas por gangues.

O Trem de Aragua, maior grupo criminoso da Venezuela, controlava Tocorón. Apesar do discurso oficial de combate à gangue, analistas e a oposição acreditam que Maduro protegeria o grupo e inclusive o teria utilizado para sequestrar e matar um ex-militar venezuelano no Chile em março deste ano.

Além disso, especialistas afirmaram que a falta de informações sobre as operações nos dois presídios coloca em dúvida se houve realmente “êxito” no trabalho de retomada do controle de ambos.

Além dessa incerteza, familiares têm sido impedidos de visitar os manifestantes que são mantidos nos dois locais. O Observatório Venezuelano de Prisões (OVP) disse que muitas famílias só souberam da proibição quando chegaram às unidades para levar comida, de acordo com reportagem da agência France-Presse.

Esses detidos também não estão podendo receber advogados que escolheram para defendê-los, denunciou o OVP. Em muitos casos, os parentes fizeram viagens de centenas de quilômetros até os presídios – para terem a esperança de ver seus entes queridos frustrada pelos agentes penitenciários.

Dos mais de cem menores de idade presos durante a repressão aos protestos pós-eleição, 76 foram libertados no último fim de semana, segundo a ONG Justiça, Encontro e Perdão.

Dos que ainda estão presos, alguns estão em Tocuyito e Tocorón. Relatos ao site Efecto Cocuyo apontaram o desespero dos familiares: a tia de um dos cinco adolescentes detidos em Tocuyito pediu para que ele seja transferido para um centro adequado à sua idade.

“Não sabemos como está o nosso filho, apenas nos dizem que está bem de saúde, mas não o vimos”, disse a mulher.

O pai de um detido no mesmo presídio disse que os funcionários da unidade não permitem sequer a entrega de alimentos ou artigos de higiene.

“Disseram-nos que estavam fazendo trabalhos nos espaços [do presídio] e que não podiam receber visitas nem entregas”, afirmou. “É como se tivéssemos sido jogados no nada, sem saber o que fazer com tudo o que trouxemos. E nossos meninos estão sofrendo um sequestro.”

Na última terça-feira (3), sete presos foram levados para Tocorón sem que qualquer informação fosse prestada às suas famílias, entre eles, o advogado da ONG Foro Penal em Carabobo, Kennedy Tejeda, que havia sido detido em 2 de agosto quando tentava entrar em contato com pessoas presas durante as manifestações.

“Até a data da publicação deste apelo urgente, nem a Foro Penal nem sua família tiveram contato com Kennedy Tejeda e foi-lhe negado o acesso aos seus advogados”, informou nesta sexta-feira (6) em nota o Observatório para a Proteção dos Defensores dos Direitos Humanos, um programa conjunto da Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH) e da Organização Mundial contra a Tortura (OMCT).

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