O ditador venezuelano Nicolás Maduro ordenou que todos os membros de seu gabinete coloquem seus cargos à disposição para uma "reestruturação profunda" dos "métodos de trabalho" e "funcionamento do governo bolivariano".
A notícia veio pela vice-presidente do regime, Delcy Rodríguez, que anunciou a decisão de Maduro em seu perfil do Twitter na noite de domingo (17). O objetivo, segundo ela, é "blindar a Pátria de Bolívar e Chávez ante qualquer ameaça". Há cerca de dez dias, um apagão atingiu 90% do território venezuelano, expondo uma grave crise energética no país. O regime chavista, porém, defende que houve uma "sabotagem" do sistema elétrico nacional, orquestrada pelos Estados Unidos.
Nenhum outro anúncio relacionado à tal reestruturação veio do Palácio Miraflores. Especialistas, entretanto, apontam que a medida está mais para uma dança das cadeiras do que para uma mudança dos nomes no alto escalão, muitos dos quais são acusados de narcotráfico nos Estados Unidos. Ou seja, provavelmente não haverá caras novas na administração que estejam comprometidas com uma reestruturação real do governo.
Uma situação semelhante ocorreu em junho de 2018, quando o principal desafio do regime era colocar a economia nos eixos. Maduro anunciou que Tareck El Aissami, então vice-presidente, assumiria a vice-presidência do Ministério da Economia. Na época, o regime trabalhava em um plano de recuperação econômica que salvaria o país de uma crise profunda, mas que, após sua implantação, se mostrou um completo desastre, puxando a inflação para níveis recordes.
Naquele mesmo mês, Maduro diminuiu o número de militares nos ministérios. De acordo com a ONG Control Ciudadano, dos 12 ministros que foram anunciados em junho de 2018, 5 substituíram nomes relacionados às Forças Armadas. Com a saída deles, 26,7% dos ministros tinham laços com os militares. Antes disso a presença era de 43,7%. Vale lembrar que, naquela época, Maduro acabara de ser reeleito e a oposição estava debilitada.
Especula-se ainda que a nova "reestruturação" poderá buscar aumentar o poder de Cuba dentro do regime. A presidente da ONG Control Ciudadano e analista das Forças Armadas da Venezuela, Rocío San Miguel, acredita que a reestruturação do executivo é um "movimento tutelado por Cuba" para "dar mais um passo" rumo à radicalização.
O senador americano Marco Rubio fez um comentário enigmático sobre a dita reestruturação do regime. Retuitando a notícia, ele escreveu que "os próximos dias serão tensos, mas importantes", acrescentando que "a liberdade está chegando" à Venezuela.
Caracas no escuro, de novo
A região metropolitana de Caracas voltou a registrar um apagão na manhã desta segunda-feira (18). Relatos na imprensa local e nas redes sociais informaram que vários setores da capital ficaram sem luz. Em uma das áreas, de acordo com o jornal El Nacional, moradores estavam protestando pela falta de água quando a energia elétrica acabou. Houve relatos de explosões em transformadores.
Guarenas e Guatires, no estado de Miranda, também ficaram no escuro. O serviço já foi restabelecido em algumas zonas.
Desde 7 de março, quando houve o maior apagão da história do país, a energia elétrica está oscilando com frequência. Sob a justificativa de uma sabotagem coordenada pelos EUA, as Forças Armadas da Venezuela realizaram exercícios militares nas unidades mais importantes do sistema elétrico nacional.
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A explicação do regime foi refutada por especialistas do setor energético. Eles especulam que houve um incêndio perto da subestação Malena, que acabou por afetar o funcionamento da principal hidrelétrica da Venezuela, Guri. Segundo o engenheiro Julio Molina Guzmán, diretor da escola de Engenharia da Universidade Central da Venezuela, este problema poderia ter sido resolvido dentro de 4 a 6 horas se a Corpoelec, companhia estatal de energia elétrica, dispusesse de equipamentos, materiais, sistemas de comunicação em funcionamento e pessoal qualificado. O apagão, porém, seguiu por pelo menos cinco dias e há cidades em que a energia elétrica ainda não foi restabelecida.