O Parlamento da Venezuela garantiu neste domingo (15) ao presidente Nicolás Maduro poder de governar por decreto até o fim de 2015, num gesto que o mandatário diz que servirá para defender o país da intervenção dos Estados Unidos, mas que a oposição condena como prova de autocracia.
O poder de decreto, chamado de lei anti-imperialista, dá a Maduro a capacidade de aprovar leis sem autorização do parlamento até o final deste ano. Antes do final do prazo, o país realiza importantes eleições parlamentares.
Democracia fica cada vez mais frágil na Venezuela
Nem democracia, nem ditadura. A Venezuela de Nicolás Maduro está na metade do caminho, na opinião de analistas políticos e ONGs locais consultados pela reportagem sobre como definir o atual governo do país
Leia a matéria completaEm barulhenta sessão na Assembleia Nacional, os parlamentares do Partido Socialista, que está no poder e tem maioria, aplaudiram a lei como resposta legítima a uma sanção dos Estados Unidos a sete autoridades venezuelanas e uma subsequente declaração de que a Venezuela seria uma “ameaça à segurança”.
“Eles (Estados Unidos) querem por suas mãos na riqueza da Venezuela, assim como fizeram com outros países”, disse a parlamentar Tani Diaz, apresentando a lei como uma legislação de caráter “anti-imperialista”.
Do lado de fora da assembleia, apoiadores do presidente Maduro, vestindo vermelho, gritavam e seguravam cartazes com os dizeres: “Yankees, vão para a casa!”.
Oposição
Em seus discursos, deputados da oposição, agitados, afirmaram que Maduro estaria cinicamente tirando proveito do impasse diplomático com Washington para acumular poderes, justificar a repressão e distrair os venezuelanos dos problemas econômicos vigentes, como escassez grave de produtos básicos.
“Corruptos: suas viagens à Disneylândia estão acabadas”, escreveu no Twitter o líder da oposição Henrique Capriles, em referência ao cancelamento dos vistos de sete autoridades venezuelanas que Washington acusa de corrupção e violação a direitos humanos.
“O povo venezuelano não é estúpido. Isso (medida do governo dos EUA) é contra vocês, não contra a Venezuela”, acrescentou.
Embate
A medida norte-americana desencadeou denúncias diárias de Maduro, uma série de passeatas “anti-imperialistas”, treinamentos cada vez mais frequentes do Exército e uma proliferação de grafites nas cidades condenando a interferência “gringa”.
Além disso, ofuscou o incômodo de muitos venezuelanos, que sofrem com a maior inflação das Américas, longas filas por comida e medicamentos e escassez de muitos produtos básicos.
Maduro, ex-líder sindicalista de 52 anos de idade e ministro das relações exteriores que ganhou as eleições para substituir Hugo Chavez em 2013, viu sua aprovação cair drasticamente durante a crise econômica, mas membros de institutos de pesquisa já preveem que ele deve voltar a subir com a tática de orgulho nacionalista e recuperar prestígio com os eleitores após o pequeno conflito com os norte-americanos.
Tanto governo como oposição já se preparam para eleições para a Assembleia Nacional ainda neste ano. A data ainda não foi confirmada.
Cientes dos episódios passados de interferência norte-americana no continente, os países vizinhos latino-americanos têm apoiado Maduro. O bloco Unasul condenou a “ameaça intervencionista” de Washington em um comunicado.
É a segunda vez que Maduro é empoderado pela Lei Habilitante durante seus dois anos de governo.
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