No próximo domingo (3), a Venezuela realizará um referendo para que a população decida se o governo deve tomar medidas para anexar a região do Essequibo, uma área da Guiana sobre a qual Caracas reivindica soberania.
Simulações prévias da votação têm sido realizadas na Venezuela e agora educadores e pais estão denunciando que a ditadura de Nicolás Maduro reteve estudantes em escolas para obrigá-los a participar do processo.
A simulação em colégios ocorreu na quarta-feira (29). Rebecca Mora, mãe de um adolescente de 14 anos que estuda no Liceu Bolivariano Naricual, na cidade de Barcelona, no estado de Anzoátegui, denunciou a situação em um vídeo nas redes sociais.
“Trancaram meu filho no colégio e disseram que se ele não votasse no bendito Essequibo, não passaria nem frequentaria o colégio, nem poderia sair do colégio. Eles sequestraram os meninos da escola e disseram-lhes que, se não votassem, não iriam embora. Isso não pode ser assim, isso não se faz”, disse Mora.
A mãe disse que não entendeu por que seu filho foi obrigado a participar da simulação: na Venezuela, apenas maiores de 18 anos podem votar.
Evencio Zenón, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Docentes do estado de Táchira, disse ao Diario de Los Andes que crianças de 11 e 12 anos participaram da simulação, apesar de não terem “a capacidade de responder nem compreenderem o que significam a Sentença Arbitral de 1899 e o Acordo de Genebra de 1966” – em referência a duas decisões internacionais sobre a disputa entre Venezuela e Guiana pela região do Essequibo, que corresponde a cerca de 70% do território guianense.
“Ninguém pode duvidar que o fato interno ou o objetivo desta consulta de hoje [quarta-feira] seja alegadamente aproveitar a assinatura, nome, sobrenome e documento de identificação de crianças e professores, para utilizá-los no referendo de 3 de dezembro”, afirmou Zenón.
Segundo informações da imprensa venezuelana, ameaças também foram feitas contra presidiários para que votassem em simulações do referendo e o governo prometeu retirar vales-alimentação e outros benefícios da população em geral caso não votem no domingo.