Com a diminuição das receitas vindas do petróleo e o aumento de sanções norte-americanas, o regime do ditador Nicolás Maduro busca aumentar as reservas de ouro e outros minérios para manter o país.
Na quarta-feira (5), Maduro anunciou investimentos de mais de 7 bilhões de euros para o Plano Nacional de Mineração de 2019 a 2025. No anúncio transmitido pela televisão estatal venezuelana, Maduro disse que esse investimento deve trazer mais de 30 bilhões de euros em receitas para o país.
O Plano Nacional de Mineração tem o objetivo de produzir 80 toneladas de ouro por ano, 1 milhão de quilos de diamantes, 12 mil toneladas de níquel e 35 mil toneladas de coltan - uma mistura dos minerais columbita e tantalita.
Essa nova corrida pelo ouro e outros minerais deve alimentar o crime organizado e a falta de segurança.
Proliferação do crime
A cidade de Puerto Ordaz já foi um polo industrial do país, mas com o colapso da economia, a cidade se tornou apenas um posto de minas de ouro controladas por gangues criminosas.
O jornal britânico The Guardian esteve no local e relatou as duras condições dos trabalhadores e moradores da cidade que já foi próspera no passado.
O ouro tem sido cada vez mais usado por Caracas para pagar suas dívidas. Por isso, segundo a reportagem, o regime de Nicolás Maduro tem permitido que a indústria ilegal e os grupos armados que comandam a extração do metal prosperem, gerando uma epidemia de violência, doenças e devastação ambiental.
Os shopping centers locais foram tomados por negociadores de minérios, que ocupam as lojas que antigamente vendam roupas ou equipamentos eletrônicos. Lá eles aguardam mineradores que querem trocar fragmentos de ouro por dinheiro.
A corrida do ouro também causa a proliferação de gangues armadas, atraiu guerrilheiros colombianos do Exército de Libertação Nacional e fomenta a corrupção nas forças armadas e a insegurança em Puerto Ordaz.
Além de tudo isso, doenças estão ressurgindo na região das minas, como a malária, que apareceu após ter sido eliminada no local.
Mortos e desaparecidos
As condições de trabalho nas minas são brutais. As pessoas que estão lá vieram à procura de uma alternativa após os seus salários terem sido consumidos pela hiperinflação; muitas vezes, o salário de um trabalhador é o suficiente apenas para comprar um pacote de arroz.
Alguns trabalhadores não voltam dos poços de ouro. Suas mortes não são registradas e seus corpos nunca são oficialmente enterrados.
Um desses desaparecidos é o fotógrafo Wilmer González, que fazia um documentário enquanto trabalhava nas minas de ouro. A última vez que ele se comunicou com a família foi em março de 2018.
Na região, muitas pessoas que não estão diretamente procurando ouro dependem dessa economia para sobreviver. Muitas pessoas vão até as minas para vender diesel. É o caso de uma professora de escola primária que falou com a reportagem do The Guardian.
A professora, que pediu para o seu verdadeiro nome não ser revelado com medo de perder o emprego, faz a viagem de 18 horas duas vezes por semana com o seu marido e duas crianças pequenas, se expondo à malária e à violência na região para um pequeno lucro que ajuda a manter a sua família sob um teto e com alimentos básicos na mesa.
"Eu não tenho outra escolha se eu quiser comer. Eu não recebo o meu salário em há 18 meses", disse a professora, que já foi apoiadora de Hugo Chávez e perdeu a fé no governo quando a economia colapsou, fazendo com que o seu marido perdesse o emprego em uma fábrica e ela ficasse sem receber pelo seu trabalho.
"Isso nos levou a fazer coisas que nunca imaginamos. Vender queijo, negociar moeda. Então não tínhamos nenhuma outra forma de ganhar dinheiro e decidimos vir e vender diesel nas minas", disse ela.
Deixe sua opinião