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Queda de Assad

Maduro que se cuide: confiar na Rússia não anda sendo bom negócio

Os ditadores da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Rússia, Vladimir Putin, se cumprimentam na cúpula dos Brics em Kazan, em outubro (Foto: EFE/EPA/ALEXANDER NEMENOV/POOL)

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Quando o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, promoveu no final do ano passado um referendo para aprovar “medidas” para anexação da região guianense do Essequibo – uma reivindicação de Caracas desde o final do século XIX –, muitos analistas mencionaram o apoio da Rússia e do Irã ao regime chavista.

Entretanto, também destacaram que, com Moscou e Teerã ocupadas com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, respectivamente, as chances de darem apoio decisivo caso Maduro invada a Guiana são reduzidas.

O agora ex-ditador da Síria, Bashar al-Assad, sentiu na pele os efeitos dessa indefinição no fim de semana passado. Sem apoio da Rússia e do Irã, que o haviam ajudado na guerra civil contra os rebeldes sírios iniciada em 2011, o tirano teve que deixar o país às pressas, rumo a Moscou.

Assad aprendeu algo que a Armênia já havia sentido em 2023: não anda sendo bom negócio confiar na Rússia.

Em meados do ano passado, o governo armênio já vinha alegando que a Rússia havia se afastado do compromisso de protegê-la do vizinho Azerbaijão, que tem capacidade militar maior.

Armênia e Rússia fazem parte, junto de Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão, da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma espécie de “OTAN da Rússia”, que, assim como a aliança militar do Ocidente, estabelece que um ataque a qualquer um dos seus membros deve ser respondido pelos outros. Porém, na crise com o Azerbaijão, a Armênia viu que tal compromisso não passava de conversa fiada.

Os dois países, ambos ex-repúblicas soviéticas, tinham uma divergência histórica sobre a região de Nagorno-Karabakh, localizada dentro do Azerbaijão, mas que possuía população étnica armênia.

O impasse foi resolvido de forma trágica após uma operação do Azerbaijão no enclave em setembro do ano passado. Devido à ofensiva militar, praticamente toda a população de 100 mil habitantes de Nagorno-Karabakh fugiu para a Armênia e o governo separatista de Artsakh, que controlava parte do enclave, assinou um decreto para dissolver todas as suas instituições estatais.

Forças de paz da Rússia intermediaram um acordo de cessar-fogo, mas não atuaram para repelir a invasão. Diante da inação de Moscou, os armênios aumentaram seus gastos com defesa e se aproximaram do Ocidente para parcerias na área. Em junho deste ano, anunciaram que, numa data a ser confirmada, deixarão a OTSC.

No começo de dezembro, num debate no Parlamento da Armênia, o primeiro-ministro Nikol Pashinyan disse que já considera que o país está “fora da OTSC” e que o retorno armênio à organização está “cada vez mais difícil, se não impossível”. “Acredito que passamos do ponto de não retorno”, enfatizou.

Rússia estava insatisfeita com postura de Assad

A falta de resposta russa diante da ofensiva contra Assad foi entendida como um reflexo do foco de Moscou na guerra contra a Ucrânia, como destacou o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, num post na sua rede social, Truth Social.

“A Rússia, por estar tão enrolada na Ucrânia, e com a perda de mais de 600 mil soldados lá, parece incapaz de parar esta marcha literal através da Síria, um país que eles protegeram durante anos”, afirmou o republicano.

Porém, Nicole Grajewski, pesquisadora do think tank americano Fundo Carnegie para a Paz Internacional, apontou um ingrediente extra: tanto Irã quanto Rússia estavam insatisfeitos com Assad, e por isso não fizeram nada para salvá-lo da queda.

“Ambas as potências ficaram cada vez mais frustradas com a intransigência de Assad. Para a Rússia e o Irã, Assad era o homem deles [apenas] até não ser mais”, apontou num artigo.

“No início de 2024, tanto o Irã quanto a Rússia mudaram sua postura sobre o presidente [sic] sírio. A Rússia ficou particularmente indignada com as repetidas violações dele do acordo de desescalada [na região] de Idlib e a resistência obstinada a qualquer forma de acordo negociado”, escreveu Grajewski.

Independentemente dos motivos russos, deixar aliados na mão gera consequências para o Kremlin: o vice-almirante reformado americano Robert Murrett, vice-diretor do Instituto de Políticas de Segurança e Direito da Universidade de Syracuse, disse à revista Newsweek que a queda de Assad é “um golpe enorme” para o prestígio da Rússia no Oriente Médio, já que a Síria era “absolutamente vital para os ativos da Marinha russa operando no Mediterrâneo”.

“Eles [russos] podem tentar manter algum território por lá com o novo governo, mas mesmo isso é meio forçado, considerando todo o apoio que eles forneceram ao regime de Assad”, afirmou Murrett, que previu “um caminho pela frente difícil para os russos”.

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