Como consequência da extradição aos Estados Unidos do empresário Alex Saab, suposto testa de ferro do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, o governo da Venezuela interrompeu o diálogo com as forças democráticas iniciado em 13 de agosto no México, cuja quarta sessão começaria neste domingo. O anúncio foi feito no sábado pelo autoproclamado presidente da Assembleia Legislativa e chefe da delegação de Maduro no diálogo, Jorge Rodríguez, que culpou EUA, Colômbia e a oposição pela situação.
“A nossa delegação anuncia que suspende a sua participação na mesa de negociações e diálogo. Consequentemente, não participaremos na rodada que deveria começar amanhã, 17 de outubro, na Cidade do México, como expressão profunda do nosso protesto contra a agressão brutal contra a pessoa e a posse do nosso representante Álex Saab”, justificou Rodríguez. Saab, que foi detido em 12 de junho do ano passado em Cabo Verde, a pedido dos EUA, em um caso de lavagem de dinheiro, foi recentemente nomeado membro da equipe de negociação do governo venezuelano, que também o considera diplomata.
Rodríguez, que foi acompanhado por toda a delegação bolivariana, descreveu a extradição como uma “ação ilegal” que “violenta” o direito internacional. O chavista também culpou o governo do presidente colombiano, Iván Duque, os Estados Unidos e a aliança democrática “liderada por Juan Guaidó e Leopoldo López” pela “agressão” contra a Venezuela. “Esta ação ilegal e desumana, prejudicial ao direito internacional, constitui um novo ato de agressão dos Estados Unidos contra a República Bolivariana da Venezuela, dado que Álex Saab foi incorporado pelo nosso país como membro de pleno direito do processo de diálogo e negociação que ocorre no México”, acrescentou. Segundo Rodríguez, a vida de Saab “está em perigo” nas mãos da Justiça dos EUA, à qual exigiu a sua libertação.
O nome do empresário, de 49 anos e que foi extraditado neste sábado, apareceu na imprensa quando a ex-procuradora venezuelana Luisa Ortega Díaz o acusou, em 2017, de ser um dos testas de ferro de Maduro. Ele era procurado pelos Estados Unidos por suposta lavagem de dinheiro. Ligado a várias empresas, incluindo o Group Grand Limited (GGL), Saab é acusado de fornecer alimentos e produtos a preços inflados ao governo de Maduro. O empresário e três enteados de Maduro lucraram “centenas de milhões de dólares” com estas operações, segundo as autoridades americanas.
Presidente da Colômbia e democratas venezuelanos comemoraram extradição
O presidente da Colômbia, Iván Duque, havia comemorado no sábado a extradição de Alex Saab, que é colombiano de nascimento. “A extradição de Alex Saab é uma vitória na luta contra o tráfico de drogas, a lavagem de dinheiro e a corrupção propiciados pela ditadura de Nicolás Maduro”, escreveu o mandatário colombiano no Twitter.
Duque acrescentou que “a Colômbia tem apoiado e continuará a apoiando os EUA na investigação contra a rede criminosa transnacional liderada por Saab”. Em agosto, o presidente já havia afirmado considerar a extradição da Saab para os Estados Unidos essencial para descobrir os “laços obscuros” do governo venezuelano com o tráfico de drogas. “É necessário e essencial descobrir todas as ligações obscuras entre a ditadura venezuelana e o tráfico de drogas, a lavagem de dinheiro e uma rede criminosa muito grande”, disse o presidente em entrevista à Rádio Nacional da Colômbia. Duque ainda recordou que, na Colômbia, a Procuradoria-Geral da República realiza um processo de expropriação de oito propriedades do empresário, com o qual as autoridades buscam processar “todos aqueles que se beneficiaram desta rede”, que “vão desde os beneficiários a parceiros e pessoas ligadas à lavagem de ativos”.
Líderes das forças democráticas venezuelanas também celebraram a extradição de Saab. “Não há intocáveis. Mais cedo ou mais tarde, todos aqueles que saquearam a Venezuela e cometeram crimes contra a humanidade vão cair. A justiça sempre chega. Após um longo e complexo processo, foi extraditado aos EUA Álex Saab, o maior mafioso de Maduro, (a sua esposa) Cilia Flores e a sua comitiva”, escreveu Carlos Vecchio no Twitter.
Na mesma linha, o ex-deputado Julio Borges afirmou que “a extradição de Álex Saab aos EUA é um passo fundamental que conduz à justiça e à verdade diante do saque, da corrupção e da rede de crime organizado que hoje sustenta e alimenta o regime de Maduro”. Borges disse que Saab, nomeado pelo governo venezuelano como diplomata após a sua prisão, enriqueceu com a “fome dos venezuelanos”. “A extradição de Saab é também um recado àqueles que apoiam e são cúmplices de Maduro. Não importa quanto tempo demore, mas a justiça vai chegar. Pode ser hoje ou amanhã, mas sempre chega”, advertiu, insistindo que o colombiano é um testa de ferro para Maduro e a sua esposa, e que conhece todos os seus negócios e segredos. “Ele controlava setores fundamentais da economia como ouro, petróleo, construção, combustível, entre outros, e também se articulou com países como Rússia e Irã para lavar enormes quantias de dinheiro e escapar das sanções internacionais”, disse Borges.