Após conseguir a reeleição em uma votação ridicularizada como uma farsa, o presidente venezuelano Nicolás Maduro está embarcando em uma tarefa difícil: convencer aqueles que o qualificam como ditador impiedoso de que está concedendo algumas liberdades para evitar mais retaliações internacionais.
Desde sua vitória, em 20 de maio, Maduro pediu ajustes nas políticas que assustaram os investidores estrangeiros e fizeram a indústria petrolífera da Venezuela desmoronar. Ele encontrou-se com membros da oposição, banqueiros, diplomatas e um senador americano. Procurando “virar a página da violência política”, ele libertou dezenas de ativistas, políticos, integrantes de gangue.
Venezuelanos de todos os espectros políticos vêm criticando Maduro por levar a fome e a hiperinflação a um país que antes era próspero. Seu regime socialista é alvo de sanções e foi isolado internacionalmente. O ditador foi acusado de pisotear os direitos e levar aquela que foi uma das democracias mais vibrantes da América Latina a se tornar uma ditadura.
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Agora, com opositores políticos silenciados, isolados ou presos, Maduro tenta dar um golpe de relações públicas. “É uma tentativa de controlar os danos, diante da crescente escalada das críticas internacionais”, diz Daniel Lansberg-Rodriguez, um analista venezuelano que dá aulas na Northwestern University's Kellogg School of Management.
Os Estados Unidos estão considerando novas sanções à Venezuela, tendo como alvo a indústria petrolífera, depois que Maduro desafiou os pedidos para deter uma eleição na qual a oposição era mais popular e foi excluída das urnas. A União Europeia prometeu sanções adicionais, enquanto a Organização dos Estados Americanos publicou um relatório acusando a Venezuela de crimes contra a humanidade, que incluem tortura, estupro e mais de 8 mil execuções extrajudiciais.
Outras aberturas
Outras aberturas para a comunidade internacional ocorreram quando os socialistas enfrentavam lutas internas e críticas no exterior. Em 2014, lideres regionais e o Vaticano mediaram um encontro entre as facções políticas venezuelanas após meses de sangrentos.
Delegações se encontraram na República Dominicana, em 2016, com apoio do Departamento de Estado americano. Mas elas foram suspensas após o governo bloquear uma iniciativa que previa um referendo para discutir se Maduro deveria permanecer no poder. As conversas foram retomadas em 2017, mas terminaram neste ano, após o governo acelerar os preparativos para as eleições presidenciais.
Com a pressão aumentando nas últimas semanas, Maduro vem mantendo conversas com rivais políticos, lideres religiosos e o senador americano Bob Corker. Os participantes das conversas têm um pedido em comum: libertar presos políticos.
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Maduro libertou alguns. Depois de soltar Joshua Holt, um ex-missionário mórmon presi em 2016, o governo venezuelano devolveu a liberdade a 80 pessoas, incluindo banqueiros, estudantes, dois parlamentares da oposição e um ex-prefeito. Ele não chegou a libertar Leopoldo Lopez, um ativista que se encontra em prisão domiciliar e que é o principal preso político venezuelano.
Grupos de direitos humanos estimam que, pelo menos, 300 prisioneiros políticos estejam atrás das grades. Alfredo Romero, diretor do grupo de advogados Foro Penal, minimizou a ação de Maduro, dizendo que os libertados poderão voltar à prisão e que o governo continua prendendo oposicionistas.
Entretanto, muitos acreditam que as últimas medidas tomadas têm mais por objetivo reduzir as tensões com Washington do que agradar oposicionistas.
Lobby americano
Além de restringir o acesso do governo venezuelano, já sem dinheiro, ao sistema financeiro americano e impor sanções a dezenas de funcionários de alto escalão, incluindo Maduro, os Estados Unidos estão fazendo lobby junto aos aliados da Venezuela para que esta seja expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Na semana passada, o grupo aprovou uma resolução que pode suspender a Venezula. Alguns dos países que receberam ajuda dela, como El Salvador e Nicarágua, se abstiveram de votar.
Apesar de a Venezuela já ter se distanciado da organização, Gregory Weeks, professor de ciência política da Universidade da Carolina do Norte, disse que o voto demonstra o isolamento de Maduro.
Na América Latina, cada vez menos pessoas querem apoiá-lo.
À medida que a produção de petróleo, único item relevante da pauta de exportações venezuelana, cai a níveis não registrados nas últimas décadas, o governo tem lutado para poder manter o apoio externo e alimentar a sua população. A produção de petróleo caiu de 2,9 milhões de barris por dia, em 2013, quando Maduro foi eleito pela primeira vez, para 1,5 milhão, em maio, de acordo com dados enviados pela Venezuela à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
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Enfrentando uma queda dramática na produção de petróleo, Maduro prometeu lançar uma “revolução econômica” e fez um apelo à reconciliação nacional. Poucos acreditam que ele consiga reverter a situação. Christopher Sabatini, professor de política internacional da Universidade de Columbia disse que os últimos esforços de Maduro podem estar vindo na hora errada.
“A esperança é eterna quando se trata de um diálogo com o governo venezuelano”, disse Sabatini. “A tática do governo, novamente atrasada, busca ganhar tempo com a esperança de que haja alguma oportunidade econômica para respirar.”