Depois de prestar depoimento por cerca de 11 horas na quinta-feira, a mãe da menina britânica Madeleine McCann será declarada suspeita pelo desaparecimento da filha, segundo amigos da família. Kate McCann voltou nesta sexta-feira à sede da Polícia Judiciária portuguesa para continuar o depoimento. Porta-vozes oficiais disseram que não descartam a possibilidade de declarar Kate suspeita no caso, que se estende desde o dia 3 de maio, quando Madeleine desapareceu enquanto dormia num quarto de hotel na Praia da Luz, em Portugal. Fontes policiais informaram à imprensa que a mãe da menina de 4 anos pode deixar a condição formal de "testemunha" ainda nesta sexta.
Neste caso, Kate McCann seria a segunda suspeita formal na arrastada investigação do caso. Em quatro meses de investigação e em meio a uma grande campanha midiática em vários países lançada pelos pais para encontrar a filha, a Polícia portuguesa só considerou um suspeito, o britânico Robert Murat, que morava em uma casa próxima ao apartamento dos McCann. Agora, a nova reviravolta acontece depois de a polícia portuguesa receber as análises das últimas provas.
O depoimento da mãe indica que os investigadores concentram suas suspeitas nos pais e no grupo de amigos que os acompanhou na viagem de férias. A Polícia, que nas próximas horas interrogará também o pai da menina, Gerry McCann, decidiu pela primeira vez convocar os pais a depor separadamente após receber o resultado dos exames de manchas de sangue e outros restos biológicos. O conteúdo dos exames, feitos em um laboratório legista britânico, não foi divulgado.
A decisão policial de chamar os pais a depor aconteceu logo após a chegada a Portugal, na quarta-feira, dos primeiros resultados das análises. Nesta sexta-feira, Kate chegou às dependências da Polícia Judiciária em Portimão, no sul do país, acompanhada de uma parente e de sua assessora de imprensa. Em meio a um pequeno tumulto de fotógrafos e câmeras de televisão e a vaia de algumas das dezenas de curiosos que esperavam sua chegada, a mãe da menina entrou rapidamente na sede policial evitando as perguntas da imprensa.
A investigação tomou uma nova direção quando, em agosto, cães especialmente treinados no Reino Unido detectaram vestígios de sangue e cheiro de cadáver no apartamento e em objetos pessoais do casal McCann. Segundo a imprensa de Lisboa, os relatórios do laboratório de Birmingham apresentam indícios de que os vestígios biológicos encontrados no porta-malas de um carro alugado pelos McCann depois do desaparecimento da menina são de Madeleine, mas não estabelecem essa informação com precisão.
O cheiro de cadáver detectado pelos cães levou também a Polícia a analisar fibras de um sofá do apartamento dos McCann e do bicho de pelúcia favorito de Madeleine, que sua mãe carrega sempre, inclusive ao comparecer aos últimos interrogatórios.
Segundo fontes policiais, os detetives repassam agora nos interrogatórios toda a seqüência do desaparecimento da menina. A imprensa local acredita que estão analisando escutas telefônicas e e-mails do casal de pessoas próximas.
Kate e Gerry McCann, casal britânico muito católico, foram com um grupo de amigos - a maioria médicos como eles - passar algumas semanas de férias em um complexo turístico da Praia da Luz, no Algarve. Madeleine desapareceu quando dormia junto com os irmãos gêmeos de 2 anos, enquanto os pais jantavam com os amigos em um restaurante próximo.
Nas últimas semanas, a imprensa portuguesa - com informações que teriam vazado da Polícia - especulou que Madeleine teria morrido em um acidente ou inclusive por efeito de tranqüilizantes dados pelos pais antes de saírem para jantar, e os McCann reagiram com indignação e anunciaram processos contra a imprensa.