Costa do Sauípe - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, durante a Cúpula do Mercosul, que a principal preocupação dos países do bloco diante da crise deve ser "proteger a renda e o emprego dos trabalhadores" e que a receita para alcançar este objetivo é aumentar a integração regional. Lula afirmou que o Mercosul não vai assistir "passivamente" ao debate sobre a crise internacional.
"Nossa resposta coletiva deve ser de dobrar a aposta em nosso bloco: integração voltada para o desenvolvimento. Vejo com satisfação que nossos países têm dado, nacionalmente, respostas muito coincidentes. O Mercosul, juntamente com nossos amigos da América Latina, não assistiremos passivamente ao debate sobre a crise mundial", afirmou Lula.
Ele reforçou o discurso durante a Cúpula da América Latina e Caribe sobre Integração e Desenvolvimento (Calc), que pela primeira vez vez reúne os 33 países da região. E ressaltou:
"É a primeira vez que a região une suas vozes", observou Lula, na reunião da Calc, que foi até à noite.
Dirigindo-se aos colegas do Mercosul, Lula pediu que se prossiga discutindo sobre o fim da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC), cujo anúncio foi adiado nesse encontro por falta de acordo. O bloco também não conseguiu aprovar o código aduaneiro. Foi um revés para o Brasil.
Falando pouco depois de Lula, o presidente do Equador, Rafael Correa, apresentou uma inusitada proposta de usar as reservas internacionais dos países da região membros só o Brasil tem US$ 207 bilhões para criar um Fundo de Reserva do Sul e fazer frente à crise financeira global. Poderiam ser direcionados as aplicações soberanos nos EUA, com o objetivo de evitar problemas no balanço de pagamento e fiscais.
Declaração
Numa extensa declaração de 32 pontos, os chefes dos países do Mercosul manifestaram preocupação com a crise financeira e disseram que "os países que estão envolvidos no processo de conformação do Banco do Sul expressaram a importância da sua ativação o mais rapidamente possível, com vistas ao desenvolvimento mais harmônico, equitativo e integral da Amérifca do Sul".
Nesses dois dias, estão sendo realizadas quatro cúpulas simultâneas: da Calc, do Mercosul, do Grupo do Rio e da Unasul (União das Nações Sul-Americanas). O governo brasileiro avalia que a Cúpula na Bahia, encontro que ocorrerá, pela primeira vez, sem a chancela dos EUA ou da Europa, servirá sobretudo para intensificar o diálogo entre os 33 países participantes.
Novos fundos
Lula anunciou a criação de dois novos fundos com participação majoritária brasileira. Também informou a decisão dobrar de US$ 70 milhões para US$ 140 milhões a participação brasileira no fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem). As informações são da Agência Brasil.
Proposto pelo Brasil e aprovado na cúpula passada, em Tucumán (Argentina), o Fundo para Pequenas e Médias Empresas do Mercosul foi formatado durante o comando brasileiro. Conforme previamente anunciado, contará com US$ 100 milhões para utilização como garantia em empréstimos concedidos por bancos públicos e privados do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai a pequenas e médias empresas envolvidas em projetos de integração produtiva com empreendedores dos países vizinhos.
O Brasil também entrará com maior parte dos recursos do Fundo de Agricultura Familiar do Mercosul, voltado ao financiamento de projetos de cooperação entre governos hoje bancados pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), em fase de extinção.