Mais de metade dos habitantes negros da França diz sofrer discriminação, segundo a primeira pesquisa realizada no país junto à população de origem africana e caribenha, divulgada na quarta-feira.
A três meses das eleições presidenciais e pouco mais de um ano depois de graves conflitos de cunho racial nos subúrbios, a pesquisa do instituto TNS Sofres, publicada no jornal Le Parisien, traz novamente à tona a preocupação com o tratamento dispensado às minorias na França.
Entre os negros entrevistados, 57 por cento se dizem vítimas de discriminação, e 37 por cento acreditam que a situação piorou de um ano para cá. Estima-se que haja 2 milhões de negros adultos na França.
``É monstruoso'', disse Patrick Lozes, cujo Conselho Representativo das Associações Negras na França (Cran) encomendou a pesquisa.
``Na França, há três vezes menos negros do que brancos em altos cargos administrativos nas empresas. [Mas] há quase 2 milhões de eleitores negros. Eles vão fazer uma diferença na urna em 2007'', disse Lozes, acrescentando que 80 por cento dos habitantes negros adultos da França são cidadãos do país.
O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, candidato conservador à presidência neste ano, e sua adversária socialista, Ségolène Royal, prometem tornar a França um país mais justo para todos.
Entidades locais nos subúrbios, onde o desemprego chega a cinco vezes a média nacional, dizem que essas promessas não bastam.
A França ficou chocada em 2005 ao ver jovens indignados com a discriminação, a pobreza e o desemprego queimando milhares de carros em subúrbios do país e obrigando o governo a usar poderes de emergência para restaurar a ordem.
Lozes disse que sua entidade não descarta apresentar um candidato negro à presidência, algo que vai contra a visão oficial de que a França não reconhece as minorias, pois trata todos os cidadãos igualmente, a despeito de sua raça ou religião.
``Os negros precisam de uma mensagem simbólica - a nomeação de 8 por cento de negros no próximo governo seria um bom começo. Também queremos medidas específicas para favorecer o acesso às 'grandes écoles' [principais universidades], à mídia e ao mercado de trabalho.''