Peter Liang é o novato que matou a tiros um homem desarmado em um conjunto habitacional do Brooklyn o que, segundo a polícia, foi um acidente; o tenente Philip Chan é o veterano que teve o nariz quebrado durante um protesto na Ponte do Brooklyn; Wenjian Liu foi um dos dois oficiais morto a tiros em seu carro-patrulha, também no Brooklyn.
Recentemente os policiais norte-americanos de ascendência asiática se viram em meio a uma série de incidentes envolvendo o Departamento de Polícia de Nova York e o papel que desempenham na linha de frente comprova um destaque pouco notado, mas significativo, na posição que ocupam hoje em dia.
Há 25 anos, havia apenas 200 deles; atualmente, são mais de 2.100 de uniforme, ou seis por cento do total, como mostram as estatísticas oficiais. O volume de formandos da academia pulou de quatro para nove por cento na última década. Muitos chegaram aos EUA ainda crianças e cresceram no Lower East Side de Manhattan, junto com os pais, em restaurantes ou confecções; vários dizem que escolheram a polícia por causa da estabilidade do cargo.
"Como tantos outros grupos de imigrantes e migrantes, eles também entraram no mercado de trabalho norte-americano; afinal, é a oportunidade de ascensão na escala social", explica John Kuo Wei Tchen, historiador da Universidade de Nova York e um dos fundadores do Museu dos Chineses nos EUA.
A massa crítica, porém, acarreta mais riscos.
Acredita-se que Liu tenha sido o primeiro sino-americano a ser morto em serviço na cidade. Em 2014, James Li sobreviveu depois de ter sido atingido nas pernas em um ônibus no Brooklyn.
Cerca de metade dos membros asiáticos da polícia é composta de chineses, refletindo a composição geral do mesmo segmento da população na cidade embora ainda estejam sub-representados em relação aos quinze por cento de moradores que se identificam como asiáticos, como mostra o censo. Só para comparar, dez por centro dos oficiais de Los Angeles e treze por cento da população da cidade são asiáticos.
Há apenas uma geração, as barreiras eram inúmeras. A exigência de altura mínima de 1,70 m para os homens anulada nos anos 70 desqualificou um número incontável de candidatos, principalmente os originários de Hong Kong e do sul da China, onde a população geralmente é mais baixa. Além disso, poucos imigrantes têm histórico policial ou militar na família; na verdade, muitos deles, acostumados aos governos repressivos da China e Taiwan, desconfiam das autoridades.
"Tinha gente que se recusava a ser detida por mim, mesmo se eu mostrasse o distintivo. Diziam coisas do tipo: 'Você, policial? E por acaso existe chinês policial?'", conta Thomas N. Ong, investigador que se aposentou em 1999.
O fato é que o departamento se esforçou para integrá-los mais rapidamente que o Corpo de Bombeiros, por exemplo, com um trabalho mais agressivo de recrutamento e aprofundamento no relacionamento da comunidade. Os protestos em Chinatown que denunciaram a brutalidade policial nos anos 70, além do excesso de violência das gangues nos anos 80, intensificaram esse trabalho, explica o professor Peter Kwong do Hunter College de Nova York. Outro fator decisivo ocorreu em 1984, quando Hugh H. Mo foi nomeado comissário de julgamentos, tornando-se assim o descendente asiático com o cargo mais importante no governo municipal. Anos depois, ele disse: "Muitos pais chegavam para mim para dizer que os filhos tinham entrado para a polícia por minha causa". Yishan Tu, 23 anos, é de Pingtung, no sul de Taiwan, e certamente representa o futuro. Quando sua família se mudou para o Queens, seu pai, que era professor, só conseguiu emprego como assistente de corretor imobiliário. Alguns amigos da moça, também imigrantes, entraram para o Exército. Sua opção foi a polícia, por achar que seu mandarim e taiwanês seriam úteis; já passou no exame escrito em 2014 e, enquanto aguarda sua chance, trabalha como guia de turismo.
"Quero contribuir com a comunidade. Vou fazer parte da turma dos mocinhos", diz ela, esperançosa.
Contribuiu Jeffrey E. Singer