Ainda que quase 200 países tenham se comprometido a reduzir pela metade, até 2015, o número de pessoas sem acesso sustentável à água potável segura (Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 7), o recurso ainda está limitado no mundo. No último Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, divulgado pela ONU-Água, os representantes de 28 organizações das Nações Unidas que integram o órgão alertaram que entre 3 bilhões e 4 bilhões de pessoas ainda não têm água encanada de qualidade confiável em seus lares. Nesta sexta-feira (22), comemora-se o Dia Mundial da Água.
O documento, divulgado a cada três anos, aponta uma série de pressões sobre o recurso hídrico no planeta. Entre os exemplos figuram a má gestão da água pelos governos e as pressões naturais, produzidas, entre outras causas, pelas mudanças do clima e pelo aumento da população. A expansão demográfica é um dos fatores que impulsionam a demanda por energia, mais água tratada e saneamento no mundo.
Estimativas internacionais apontam que a população mundial aumente em 2,3 bilhões de pessoas até 2050, passando dos 6,8 bilhões de habitantes registrados em 2009 para 9,1 bilhões. O crescimento deve ser praticamente todo absorvido nos centros urbanos, em decorrência da migração de pessoas que atualmente vivem nas zonas rurais. E é nas cidades que a pressão pelo acesso à água potável e ao saneamento ainda mantém números mais positivos (94% das pessoas têm fontes melhoradas do recurso).
De acordo com o relatório, menos de 90% da população mundial tem acesso a água por meio de fontes melhoradas. A maior parte dessas pessoas está nos grandes centros urbanos. Na zona rural, apenas 76% da população podem contar com essas fontes adequadas dos recursos hídricos.
Apesar de ainda "mais bem servida", a área urbana abriga o desafio constante de manter os níveis de atendimento da população em crescimento. "Se os esforços continuarem no ritmo atual, os aprimoramentos nas instalações da cobertura de saneamento básico aumentarão em apenas 2 pontos percentuais, de 80% em 2004 para 82% em 2015", mostra o relatório.
A estimativa é tímida diante do cenário de deterioração na cobertura de água e do saneamento registrado entre 2000 e 2008, quando o número de pessoas sem acesso às instalações básicas nas cidades aumentou 20%.
"O fornecimento de água e de saneamento tem uma prioridade baixa em muitos países em desenvolvimento, nos quais os investimentos em saúde e em educação são frequentemente priorizados", avaliaram os pesquisadores. De acordo com o relatório, os investimentos em saneamento básico e no acesso à água potável vem se reduzindo, enquanto os custos com saúde aumentam nos mesmos países.
Na América Latina e Caribe, onde vivem 581 milhões de pessoas (metade delas no Brasil e no México), os índices de pobreza têm se reduzido continuamente nos últimos 20 anos, mas 30% da população (177 milhões) ainda vivem em situação de pobreza ou de extrema pobreza condições econômicas nas quais o problema da água tratada e dos esgotos é ainda mais agravado.
Dados do Ministério das Cidades mostram que no país a distribuição de água não alcança 81,1% da população e apenas 46,2% dos brasileiros têm saneamento básico. Do total do esgoto gerado no país, apenas 37,9% recebem algum tipo de tratamento. Com os investimentos feitos nos últimos anos as ligações foram ampliadas em 2,2 milhões de ramais de água e 2,4 milhões de ramais de esgotos. O governo tem defendido que a cada R$ 1 investido em saneamento é gerada uma economia de R$ 4 na área de saúde, mas o Brasil se mantinha na nona posição no ranking mundial "da vergonha", com 13 milhões de habitantes sem acesso a banheiro, segundo estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2010.