Mais de 100 países estão apoiando uma investigação independente sobre a origem do coronavírus e a resposta da Organização Mundial da Saúde à pandemia. União Europeia, Reino Unido, Rússia, Nova Zelândia, Japão, Índia e México são alguns dos signatários de um projeto de resolução que deve ser votado nesta terça-feira durante a Assembleia Mundial da Saúde, o encontro mais importante dos 194 países-membros da OMS.
A moção solicita ao diretor-geral da organização, Tedros Adhanom, que inicie um "processo gradual de avaliação imparcial, independente e abrangente, incluindo o uso dos mecanismos existentes, conforme o caso, para revisar a experiência adquirida e as lições aprendidas com a resposta internacional à Covid-19 coordenada pela OMS".
O projeto de resolução menciona ainda a identificação "da fonte zoonótica do vírus e da via de introdução à população humana, incluindo o possível papel dos hospedeiros intermediários". O objetivo é descobrir como a doença se espalhou e qual é a epidemiologia por trás disso, para evitar outra pandemia desse tipo. Para ser aprovada, a resolução precisa ser apoiada por 116 países.
A China não foi apontada no documento e a porta-voz da UE, Virginie Battu-Henriksson, disse que o intuito da resolução não é culpar ninguém pela pandemia. Porém, nesta segunda e terça-feira, quando a reunião virtual for realizada, a atenção estará voltada para os representantes chineses.
Pequim disse que está "participando ativamente das consultas do texto" da resolução apresentada pela UE, mas anteriormente rejeitou uma investigação internacional independente sobre a Covid-19, alegando ser "politicamente motivada" por países como Estados Unidos, que não assinou a resolução proposta pela UE, mas que vem conduzindo sua própria investigação sobre a origem do vírus e sobre a atuação da OMS na pandemia.
De acordo com o South China Morning Post, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse nesta segunda-feira que a China apoia uma investigação sobre a "origem zoonótica" do vírus e uma revisão sobre as ações da OMS, mas não neste momento. A medida mais urgente, disse, é cooperar no combate à Covid-19.
O presidente da China, Xi Jiping, discursou na abertura da Assembleia nesta segunda-feira e disse que seu governo agiu com "abertura, transparência e responsabilidade". "Fornecemos informações à OMS e aos países relevantes em tempo hábil. Lançamos a sequência do genoma o mais rápido possível", observou Xi.
A situação de Taiwan
Mas a resolução proposta pela União Europeia não será o único ponto crítico para o governo chinês durante a Assembleia Mundial da Saúde. Vários países, puxados por Austrália e Estados Unidos, estão apoiando a participação de Taiwan nas reuniões da OMS, como observador.
Taiwan não faz parte da ONU e é reconhecido por apenas 14 países - o mais importante deles, o Paraguai. A China reclama controle sobre o território e o considera uma de suas províncias, por isso a participação de Taiwan na Assembleia, como uma nação, é um assunto intragável para o governo de Xi Jinping.
Taiwan já participou de reuniões da OMS como observador em outros anos, quando o governo em Taipé era mais alinhado aos interesses de Pequim. Porém, em 2016, o Partido Democrático Progressista foi eleito em Taiwan e a China passou a barrar a participação da nação.
A crise mundial de saúde fez com que vários países, principalmente os Estados Unidos, saíssem em defesa do governo da presidente Tsai Ing-wen, alegando que privar Taiwan das informações sobre o vírus coloca em risco os 23 milhões da habitantes da ilha. O país não foi convidado pela OMS a participar da assembleia deste ano.
“Até agora, governos de 29 países expressaram apoio à participação de Taiwan na OMS. Todos os nossos aliados diplomáticos apresentaram a proposta relacionada à OMS. E um número crescente de líderes mundiais se manifestou publicamente por Taiwan ”, disse Joseph Wu, ministro das relações Exteriores de Taiwan, nesta segunda.
Uma resolução que permitiria o status de observador à Taiwan – proposta pela Nicarágua e Suazilândia com o apoio de Japão, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia – seria votada nesta segunda-feira, mas a discussão foi adiada para o fim do ano. Segundo admitiu o ministério das Relações Exteriores de Taiwan, a agenda da Assembleia Mundial de Saúde deste ano está significativamente reduzida e os países querem usar o tempo limitado disponível para se concentrar em maneiras de conter a pandemia.