Mais de 12 mil crianças foram feridas ou mortas em zonas de conflitos em todo o mundo em 2018, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado na terça-feira (30). Esse foi o pior ano já registrado para as crianças que vivem em regiões de conflitos armados de acordo com o relatório anual do Conselho de Segurança da ONU, que afirma que foram cometidas mais de 24 mil violações graves, que incluem o uso de crianças como combatentes e ataques contra escolas e hospitais.
Os países com mais casos de mortes de meninos e meninas em conflitos no ano passado foram Afeganistão (3.062 casos), Síria (1.854) e Iêmen (1.689).
As crianças ainda são usadas em combates, principalmente na Somália, Nigéria e Síria: cerca de 7 mil crianças foram arrastadas para postos de combate pelo mundo em 2018. Elas também são sequestradas para serem usadas em ataques armados ou para atos de violência sexual: mais da metade desses casos relatados foi na Somália.
"Sem dúvida, a situação que mais me vem à mente é a pior delas - a que nós temos que fazer o maior esforço para reverter - é a da Somália", disse a jornalistas Virginia Gamba, representante especial da ONU para crianças em conflitos armados, diretora do departamento que elabora o relatório.
Gamba disse que o número de violações de todas as categorias na Somália é muito alto e que o quadro é preocupante. Tanto o Exército Nacional da Somália quanto os grupos terroristas al-Shabab e Ahlu-Sunna Wal-Jama'a (ASWJ) foram incluídos no relatório como autores das violações.
Ainda segundo o relatório, ataques contra escolas e hospitais diminuíram de maneira geral, mas se intensificaram em algumas situações de conflitos, como no Afeganistão e na Síria, que registrou o maior número de ataques desse tipo desde o início do conflito.
Mali é o país onde as crianças mais sofrem com o fechamento e o uso militar de escolas por conflitos armados no ano passado: 827 escolas fecharam em Mali até dezembro, deixando mais de 244 mil crianças sem acesso à educação.
Muitas vezes, as crianças não são vistas como vítimas do recrutamento para atuar em combates e acabam detidas por sua associação com grupos armados. Na Síria e no Iraque, a maioria das crianças privadas de liberdade tem menos de cinco anos de idade, segundo a ONU.
Segundo o relatório, as violações feitas por grupos armados não variaram desde o relatório anterior, mas houve um "aumento alarmante" no número de violações causadas por governos e forças internacionais.
O relatório faz recomendações e pede que os países trabalhem com a ONU para realocar mulheres e crianças estrangeiras afiliadas a grupos extremistas, para o benefício das crianças. O número de crianças beneficiadas pelo apoio à liberação e reintegração foi de 13.600 em 2018.