A mãe e a irmã mais nova de Iffa Elia caíram no chão e tiveram que se arrastar porta afora em busca de segurança depois que um terremoto sacudiu violentamente sua casa em Palu, na Indonésia, na sexta-feira (28). Com medo de tudo, dos tremores aos saques, elas sabiam que tinham que deixar a cidade.
Mas quando chegaram ao aeroporto de Palu, uma das cidades mais atingidas pelo terremoto, encontraram um caos total. Centenas de pessoas foram pressionadas contra uma cerca ao redor da pista, pedindo, aos gritos, que as autoridades as levassem para fora da cidade em um avião, já que as estradas foram completamente destruídas. Famílias desesperadas tentavam passar as crianças por cima da cerca de metal, que eventualmente acabou cedendo.
"Eles gritavam 'apenas mulheres, apenas mulheres'", contou Elia, de 24 anos, ao Washington Post. Sua mãe, que não queria deixar o marido, decidiu ficar na cidade junto com sua irmã mais nova. Elia teve que partir sozinha.
Ela deu seu nome a um oficial da Força Aérea que estava no meio da multidão, acenando com a carteira de identidade para ele. Depois de várias horas, ela foi chamada e ficou na fila para o que acreditava ser sua chance de sair, mas duas autoridades da Força Aérea entraram em uma discussão acalorada e desfizeram a fila.
"Foi apenas uma bagunça de novo e tivemos que começar tudo de novo", disse ela.
Três aviões de transporte militar C-130 iam e vinham. Após sete horas de espera, Elia finalmente encontrou um lugar em um avião comercial que estava sendo usado para entregar suprimentos. Ela partiu para Jacarta, entre os poucos que conseguiram.
Mortes e desespero
Elia está entre as muitas pessoas que acreditam que o governo fracassou em vários níveis: fornecendo pouco aviso sobre os desastres iminentes, particularmente o tsunami, sendo muito lento e desorganizado na mobilização de ajuda e, crucialmente, deixando de manter a ordem depois do desastre.
Mais de 1.347 pessoas já foram confirmadas mortas devido a um terremoto de magnitude 7,5 e um tsunami, na cidade de Palu, na região de Donggala e nas colônias vizinhas na ilha indonésia de Sulawesi. As vítimas de terremoto na Indonésia são enterradas em vala comum gigantesca, diante ao risco sanitário.
Mais de 61 mil pessoas fugiram de suas casas destruídas, espalhadas por mais de cem locais na região, e estão ficando mais desesperadas – montando tendas improvisadas, comendo frutas das poucas árvores que ainda estão em pé e buscando água –, pois a ajuda continua escassa.
Nesta segunda-feira, em Palu, as pessoas estavam desesperadas para sair da cidade, invadindo na pista do aeroporto, dificultando a aterrissagem de aeronaves e se agarrando às rodas quando elas tentavam decolar.
A escassez generalizada de combustível tem sido relatada por várias agências de ajuda humanitária que operam na região. Havia carros estacionados em postos de gasolina, mas as bombas estavam secas.
Entre Donggala e Palu, a "estrada está cheia de pessoas implorando por comida e água", disse Fatwa Fadillah, gerente do programa de redução do risco de desastres na Catholic Relief Services.
“Eles estão com sede e com medo, porque não sabem quando terão acesso confiável à água”.
Na estrada para Palu, organizações humanitárias pararam para reorganizar seus veículos em um esforço para manter a água e o combustível escondidos, em meio a relatos de roubos na estrada. Caminhões de combustível têm viajado para a região apenas após o anoitecer, para evitar ser visto e cercado, e são escoltados por comboios da polícia.
O número de mortes provavelmente aumentará ainda mais, já que as vítimas de dois conjuntos residenciais fora da cidade de Palu, que foram "varridos e engolidos pela lama", ainda não foram contadas, segundo Sutopo Purwo Nugroho, porta-voz da Agência Nacional de Mitigação de Desastres da Indonésia. Um processo de liquefação, em que areia dura e lodo assumem as características do líquido, tornando-se lamacento e solto, fez os postes elétricos parecerem "andar", segundo os moradores, e "mudou as casas de uma área para outra".
Resgate
Os socorristas começaram a chegar à região de Donggala, onde vivem cerca de 300 mil pessoas. A área ainda é de difícil acesso devido a estradas muito danificadas. Equipes de resgate que fazem avaliações de danos dizem que tudo na costa foi danificado e destruído. Na terça-feira, emissoras de televisão locais mostraram moradores furiosos gritando com o presidente da Indonésia, Joko Widodo, mais conhecido como Jokowi, para pedir ajuda.
"Preste atenção em Donggala, Sr. Jokowi. Preste atenção em Donggala", disse o morador.
Nugroho, porta-voz da agência de desastres, admitiu que "nem todas as necessidades" dos deslocados estão bem atendidas.
"Tudo ainda é limitado - logística, combustível, tendas, colchões, cobertores, água limpa, roupas e assim por diante", disse ele.
A preparação para desastres do governo e a capacidade de responder rapidamente às crises estão sendo questionadas, particularmente entre o povo de Sulawesi. A Indonésia está no Anel de Fogo, um arco de falhas geológicas e vulcões no Oceano Pacífico e o país foi abalado por terremotos nos últimos meses, incluindo um grande e forte tremor na ilha de Lombok, que matou quase 600 pessoas em agosto.
No domingo, o presidente indonésio autorizou a ajuda estrangeira, mas nenhuma havia chegado à região nesta terça. Mais de 18 países prometeram ajuda e apoio, incluindo os Estados Unidos. Equipes da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) estão em Sulawesi realizando avaliações. O governo americano autorizou US$ 100.000 em ajuda inicial a desastres através da agência.
O ministro de coordenação para assuntos de segurança da Indonésia, H. Wiranto, disse que o governo pediu, em particular, por aeronaves C-130 adicionais que possam transportar evacuados e ajuda. Cingapura e Estados Unidos devem disponibilizar suas aeronaves militares, segundo ele.
Testemunhas dizem também que mais comboios militares estão indo para a cidade de Palu para lidar com saqueadores e estabilizar a situação de segurança.