Reprimidos por leis ambientais cada vez mais duras, combinadas com ações da Polícia Federal e forte reação de povos indígenas, os garimpeiros brasileiros passaram nos últimos anos a atravessar a linha de fronteira. Levam consigo seu modo de exploração econômica predatória, o caos social e a violência para zonas invadidas em países vizinhos.
Segundo levantamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), tem sido comuns as escaramuças na fronteira com Peru, Bolívia, Colômbia e Venezuela, além das Guianas, frequentemente invadidas por brasileiros. Em 1.º de dezembro passado, a Venezuela expulsou cerca de mil garimpeiros que trabalhavam sem licença, entre eles mais de cem brasileiros.
O governo não tem dados precisos, mas estima-se que eles passam de 200 mil, o equivalente ao efetivo do Exército. São nordestinos retirantes, sulistas aventureiros, trabalhadores sem-terras e desempregados urbanos de profissões e índole às mais diversas, inclusive foragidos da Justiça, em busca de um objetivo: riqueza fácil e aventura.
Estudo da Fundação Nacional do Índio (Funai) mostra que os garimpeiros praticam um modelo econômico altamente predatório, baseado na ambição desmedida. Após a exaustão dos recursos minerais, deixam para trás um cenário de terra arrasada, com núcleos remanescentes assolados por alta criminalidade, doenças, alcoolismo e prostituição. Uma das maiores mazelas, todavia, é a destruição ambiental.
Os conflitos com os povos originais são inevitáveis e às vezes sangrentos. Em abril de 2004, cansados de tentativas infrutíferas de impedir a destruição de sua reserva, guerreiros da etnia Cinta-Larga, em Rondônia, chacinaram 29 garimpeiros que invadiram a reserva Roosevelt, em busca de diamantes.
O governo acaba de enviar ao Congresso projetos, como o Estatuto dos Povos Indígenas e mudanças na lei de extração mineral, que devem agravar esse quadro porque tornam ainda mais inviável o garimpo predatório. Há relatos de que na selva colombiana, alguns brasileiros invasores foram fuzilados por guerrilheiros das Farcs. Nos últimos anos, porém, a guerrilha teria articulado acordo com garimpeiros, em troca de armas e produtos químicos para processamento de cocaína.