O escândalo causado por uma mala cheia de dinheiro, que foi transportada num jatinho alugado por uma estatal, deixou o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, na defensiva, no momento em que ele tenta ajudar a mulher que faz campanha para substituí-lo na Presidência, nas eleições de outubro.
Claudio Uberti, uma autoridade do setor de transportes, que é um dos principais negociadores de Kirchner nos contratos de energia com a Venezuela, pediu demissão na quinta-feira por ter permitido a um executivo venezuelano carregar quase US$ 800 mil (cerca de R$ 1,6 milhão) em dinheiro não-declarado num jatinho alugado pela estatal argentina Enarsa.
O escândalo acontece um mês depois de a ministra da Economia de Kirchner ter sido obrigada a renunciar, após a descoberta de US$ 60 mil (o equivalente a R$ 120 mil) no banheiro de seu gabinete.
A oposição, que está atrás nas pesquisas, aproveitou o novo escândalo. "Isso é coisa de Deus, estou superfeliz. A verdade apareceu, e é prova da corrupção no governo", disse a presidenciável Elisa Carrio ao jornal "La Nación".
A primeira-dama e senadora Cristina Fernández de Kirchner está concorrendo à Presidência, e as pesquisas mostram que ela tem grande vantagem sobre todos os candidatos da oposição. Ela tem conseguido manter o apoio, apesar dos escândalos de corrupção que envolveram o governo nos últimos meses.
O governo de Kirchner costuma ser visto como uma administração austera e relativamente limpa, depois dos grandes escândalos de corrupção que atingiram os governos argentinos nos anos 1990. Mas agora líderes da oposição estão questionando essa reputação. "Isso me faz lembrar os anos 90", disse Esteban Bullrich, parlamentar pelo PRO, de centro-direita, sobre o novo escândalo.
Entenda o caso
Uberti voou para a Venezuela no sábado, com o presidente da Enarsa, para discutir os investimentos da venezuelana PDVSA nos projetos de energia da Argentina. Na volta, três executivos da PDVSA, o filho de um deles e um outro executivo venezuelano voltaram no jato com os argentinos, disse a Enarsa. A alfândega encontrou US$ 800 mil em espécie, não-declarados, na mala do executivo, Guido Antonini, quando o grupo aterrissou em Buenos Aires.
Um promotor que investiga o caso disse que o dinheiro foi confiscado. Segundo a imprensa local, Antonini não foi preso e deixou o país.
Chávez rebate
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que fez uma viagem de dois dias à Argentina esta semana para anunciar o investimento de US$ 400 milhões (cerca de R$ 800 milhões) na área de energia, negou que Antonini fizesse parte de sua comitiva, e disse que os rumores eram uma conspiração norte-americana.