Malala Yousafzai, a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, fez sua primeira viagem de volta ao Paquistão nesta quinta-feira (29), mais de cinco anos depois do dia em que militantes do Talibã deram um tiro na cabeça dela para impedir a sua luta pelo direito das meninas irem à escola.
Malala mudou-se para a Inglaterra em 2012, para receber cuidados médicos, e depois impressionou o mundo com sua defesa eloquente dos direitos das mulheres. Ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2014, com o ativista indiano Kailash Satyarthi, antes de ser aceita na Universidade de Oxford.
Leia também: Judia morta em possível crime antissemita escapou de Holocausto
Embora ela tenha sido aclamada como defensora contra posições extremistas, alguns líderes islâmicos no Paquistão e em outros lugares criticaram Malala por se tornar uma “porta-voz das visões culturais ocidentais”.
Pela comoção que ela ainda provoca no Paquistão, sua visita foi cercada por um forte esquema de segurança.
“Tenho sonhado em voltar ao Paquistão nos últimos cinco anos e hoje estou muito feliz, mas ainda não acredito que isso esteja realmente acontecendo”, disse ela chorando em uma recepção oferecida pelo primeiro-ministro Shahid Khaqan Abbasi.
“Hoje, depois de cinco anos e meio, pus o pé no meu país”, comemorou.
A recepção incluiu a presença de altos funcionários do governo, ativistas sociais, parlamentares e convidados de sua região natal, Swat, que vieram dar as boas-vindas a quem chamaram de “filha do Paquistão”.
“O mundo inteiro lhe deu honra e respeito e o Paquistão também lhe dará honra. Aqui você está em sua casa, você não é uma cidadã comum, sua segurança é nossa responsabilidade”, disse o primeiro-ministro. No discurso, ele também se referiu aos militantes que feriram Malala.
“Estamos travando uma guerra contra o terror. Não importa o que o mundo diga sobre nós, o Paquistão está travando a maior guerra contra o terror e nossos mais de 200 mil soldados estão nessa guerra”, disse ele.
O percurso
Malala, de 20 anos, chegou ao Aeroporto Internacional Benazir Bhutto, em Islamabad, no início da manhã. Os canais de notícias paquistaneses exibiram imagens dela saindo do aeroporto, com os pais, em um comboio de mais de uma dezena de veículos, muitos carregando policiais e seguranças.
Ainda não está claro se ela visitará sua aldeia natal no Vale do Swat. Seu itinerário de quatro dias a levou a ficar principalmente em Islamabad e a se reunir com autoridades paquistanesas, representantes da mídia e ativistas sociais, além de parentes.
“Eu continuei minha educação no Reino Unido, mas sempre quis me movimentar livremente no Paquistão. Quero investir na educação das crianças. As mulheres paquistanesas devem ter mais poder”.
No início da adolescência, Malala já era conhecida como uma defensora da educação de meninas, algo que não é realidade em muitas regiões do Paquistão.
Leia também: Em terra de Talibã, agricultura definha e só uma planta dá lucro: a do ópio
Quando o Talibã assumiu o controle do Vale do Swat, ela se recusou a permanecer em silêncio. Militantes do Talibã embarcaram em seu ônibus escolar, perguntaram por “Malala” e depois atiraram nela.
Eles também explodiram muitas escolas de meninas e impuseram sua versão estrita da lei islâmica até que finalmente foram expulsos.
Após a sua recuperação, Malala continuou a trabalhar pela educação das meninas, criando o “Fundo Malala”, destinado a apoiar grupos de defesa da educação em países como o Paquistão, Nigéria e Quênia.
Neste mês, ela usou seu dinheiro do Prêmio Nobel para construir uma nova escola em Shangla, perto de sua cidade natal.
“Tenho 20 anos, mas já vi muitas coisas na vida, desde crescer no Vale do Swat, era um lugar tão lindo, e vi o extremismo e o terrorismo de 2007 a 2009, vendo quantas dificuldades nossas mulheres e meninas enfrentaram”, disse ela lutando contra as lágrimas. “Se dependesse de mim, eu nunca teria deixado o meu país, mas eu tive de sair e continuar minha educação lá”.