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Xi Jinping, ditador chinês, participa de cerimônia oficial no Palácio do Itamaraty, em Brasília, em 2019.
Xi Jinping, ditador chinês, em cerimônia oficial no Palácio do Itamaraty, em Brasília, em 2019.| Foto: EFE/Andre Coelho

Após quase três anos de restrições severas dentro da política Covid Zero no país, os chineses fizeram manifestações históricas nos últimos dias, em diferentes regiões do gigante asiático. Devido às repressões da ditadura chinesa, pode ser cedo para pensar no nascimento de um grande movimento pró-democracia. Ainda assim, é o marco de uma agitação que pode dar muita dor de cabeça para Xi Jinping, que, em outubro, mudou as regras do país à sua revelia para garantir seu terceiro mandato - e por tempo indeterminado.

As dificuldades econômicas geradas pela política Covid Zero ampliam as insatisfações locais dos chineses a uma escala nacional, unindo trabalhadores e comerciantes em busca de subsistência, além de uma juventude urbana frustrada pelas restrições às liberdades da era Xi.

Na manhã de domingo (27), manifestantes em Xangai pediram a renúncia do ditador chinês. Uma rara demonstração de hostilidade contra o regime, que se repetiu em outros lugares do país, principalmente em Pequim, onde estudantes da prestigiada Universidade de Tsinghua se reuniram para exigir “democracia e estado de direito”.

Em Chongqing, um chinês gritou na rua: “Só existe uma doença no mundo: a falta de liberdade e a pobreza”. Em Urumqi, onde a população foi submetida a mais de três meses de um novo confinamento, manifestações em massa explodiram na quinta-feira (24) depois que dez pessoas foram mortas em um incêndio de um prédio que estava com as saídas trancadas devido às regras da política sanitária chinesa.

Em Zhengzhou, os trabalhadores da Foxconn, subcontratada da Apple, aumentaram os protestos que já aconteciam por bônus salariais, e os funcionários reclamam também das péssimas condições de vida devido às restrições de circulação por causa do combate ao coronavírus.

Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, coronel da reserva do Exército e mestre em estudos de defesa e estratégia na Universidade Nacional de Defesa, em Pequim, lembrou que, apesar de o regime chinês ser autoritário, manifestações são frequentes no país, porém normalmente acontecem contra autoridades locais e envolvem questões mais específicas do campo ou das cidades. “O que é incomum e surpreende nesses protestos que estão ocorrendo agora na China é o fato de serem dirigidos contra o governo central e sua política contra a Covid-19”, descreveu.

Especialmente no último fim de semana, os manifestantes gritavam diretamente contra Xi Jinping e suas políticas. Faixas pediam a renúncia do ditador, pelo fim do “mandato vitalício” e da testagem obrigatória em massa. “Não precisamos de testes, mas de liberdade”, diziam cartazes dos manifestantes, além de “Devolva-nos o cinema e pare com a censura”.

Repressão do regime 

Diante das movimentações, o regime chinês se impõe através de prisões, violência e censura. Nas redes sociais chinesas, parte das informações sobre essas manifestações foi apagada. E, apesar do controle estatal sobre a divulgação do número de pessoas que foram presas durante as manifestações até agora, algumas notícias se espalharam. A BBC noticiou a prisão de um jornalista do grupo que cobria os protestos. De acordo com o veículo de comunicação, Ed Lawrence foi maltratado durante a prisão.

Para Gomes Filho, à medida que os protestos avancem, a repressão da ditadura chinesa deverá aumentar, intensificando também a censura nos meios de comunicação e mídias sociais. “A lembrança dos protestos de 1989 na Praça da Paz Celestial é muito presente dentre os líderes do Partido Comunista da China, que certamente farão o que considerarem necessário para que um episódio daquela natureza não se repita”, analisou.

Nesse cenário, o especialista acredita que não há, até o momento, dados que indiquem que esses protestos possam ser o nascimento de um movimento pró-democracia na China. “Pelo menos não nos moldes que a democracia é compreendida no Ocidente”, avaliou.

Manifestações refletem crise social e econômica 

Se a pressão social não for suficiente para Xi Jinping frear as restrições de circulação e comércio no país dentro da política de controle da Covid-19, a economia poderá exercer esse papel. A previsão de crescimento da China para este ano é de apenas 3%, um tombo de mais de 5 pontos percentuais em relação ao ano anterior e uma desaceleração com consequências mundiais.

Uma realidade que coloca fim ao boom econômico chinês, sela a crise no setor imobiliário do país e dá início a uma bola de neve que, se não for contida, pode comprometer a estabilidade do Partido Comunista Chinês.

Por mais que Xi possa ignorar os manifestantes, não pode deixar de considerar a mensagem que eles levam para as ruas: a de que a economia é uma preocupação chinesa e de que a política Covid Zero tem grande influência sobre ela. “Certamente o que mais pressiona a mudança na política são as repercussões econômicas”, concluiu Gomes Filho.

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