Responsabilidade
Presidente reconhece que falhas dos políticos causaram os protestos
O presidente da Bósnia-Herzegovina, o croata Zeljko Komsic, reconheceu ontem que os protestos no país ocorreram por causa de problemas que se acumulam há anos e culpou a classe política por isso.
"É tudo nossa culpa. Não sei se o poder estatal poderá funcionar, mas deveria tentar. O poder sempre deve funcionar, este ou outro. Porque da anarquia não vem nada bom", disse o político bósnio, que compartilha o cargo presidencial, chefia colegiada do país, com um sérvio e um muçulmano.
Miséria
"O povo não chegou [aos protestos] porque odeia alguém ou pela orientação política, ou pelo nome de alguém, mas pela desgraça, miséria e injustiça que oprime com persistência", acrescentou em declarações a uma televisão local.
Zeljko Komsic anunciou que foi convocada uma reunião de emergência do grupo presidencial.
Acordo
Segundo os acordos de paz de 1995, a Bósnia-Herzegovina está composta por uma federação muçulmano-croata e uma república sérvia, e tem, além disso, instituições de poder comuns. Entre 1992 e 1995, uma guerra matou mais de 100 mil pessoas no país, em meio à dissolução da Iugoslávia.
A sede da presidência da Bósnia-Herzegovina, em Sarajevo, foi atacada ontem com pedradas e depois incendiada por manifestantes que protestavam contra o fechamento de várias fábricas e contra a corrupção e a pobreza.
Tropas de choque da polícia e grupos de civis entraram em confronto em vários pontos da cidade.
Os manifestantes que invadiram a presidência atiraram objetos pelas janelas, enquanto na frente do edifício continuavam os enfrentamentos entre eles e a polícia. As informações são do site Avaz, que testemunhou os incidentes.
A maioria das janelas do prédio da Presidência está quebrada e uma fumaça espessa saía da sede do governo.
Quiosques, lojas e carros foram destruídos e saqueados por grupos de manifestantes, e uma parada de trem foi incendiada, acrescentou o portal.
Feridos
No total, quase 200 pessoas ficaram feridas em confrontos com a polícia, segundo serviços médicos locais.
Trata-se do mais grave episódio de convulsão social no país desde a guerra que matou mais de 100 mil pessoas entre 1992 e 1995, em meio à dissolução da Iugoslávia.
Início
Os protestos sociais da Bósnia, que começaram na quarta-feira em Tuzla, no nordeste do país, se estenderam ontem a mais de 30 cidades, principalmente a capital Sarajevo, Bihac e Zenica, onde milhares de pessoas saíram às ruas.
Alguns veículos da imprensa bósnia informaram sobre a possível renúncia dos chefes dos governos cantonais de Tuzla e Zenica.
Em Tuzla, os enfrentamentos entre a polícia e os civis terminaram com a invasão da prefeitura. Os manifestantes destruíram computadores e móveis.
Os policiais usaram gás lacrimogêneo para dispersar o grupo, que foi para as ruas vizinhas.
Desemprego
"Isso tinha que acontecer. Os cidadãos estão sem trabalho, sem direitos. Estou há sete anos desempregado", disse um manifestante em Tuzla à emissora de televisão federal.
A taxa de desemprego encontra-se próxima de 40% no país.