Manifestantes opositores estimados em milhares destituíram o presidente do Quirguistão, Kurmanbek Bakiyev, e assumiram ontem o governo da ex-república soviética da Ásia central em meio a violentos conflitos na capital, Bishkek, que deixaram pelo menos 40 mortos. Opositores elevavam o número a 100. Ao menos outras 400 pessoas ficaram feridas.
Segundo relatos, quirguizes enfurecidos com uma espiral de aumento nos preços de serviços públicos e o estado de corrupção endêmica tomaram um prédio das forças de segurança, a sede de uma tevê estatal, além de outras instituições oficiais.
O presidente, que assumira em 2005 também após revolta popular, fugiu num avião particular para a cidade de Och, a segunda maior do país e na qual mantém residência, segundo líderes opositores embora relatos indicassem que Bakiyev teria se exilado no Cazaquistão.
À noite, a ex-chanceler Roza Otunbaieva anunciou que assumia a "coordenação das discussões para a formação do novo governo, a despeito de o presidente ainda não ter renunciado formalmente.
Na raiz dos protestos que tiveram início ontem na cidade de Talas (a oeste de Bishkek) antes de se difundirem pela capital e outras partes do país estão a insatisfação com o cerceamento das liberdades civis e o aumento da repressão nos últimos anos, além da rápida deterioração da economia.
Bakiyev assumira em 2005 em circunstâncias similares, após a deposição do então presidente Askar Akaiev no cargo desde 1991, quando o Quirguistão obteve a independência da União Soviética , prometendo abertura e a modernização do país.
O empobrecido país de 5,4 milhões de habitantes é considerado chave na região tanto por abrigar bases militares dos EUA crucial para o Afeganistão e da Rússia quanto por estar localizado numa região que Moscou até hoje considera sua esfera natural de influência.
Membros do governo deposto chegaram a acusar ontem a Rússia de estar por trás dos protestos.