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O barulho de helicópteros sobrevoando a região da Casa Branca e as sirenes não deram trégua durante toda a madrugada. Washington é uma das 75 cidades que acordaram nesta segunda-feira (1º) com as marcas da pior convulsão civil vivida nos Estados Unidos em décadas, que emergiu neste fim de semana em todos os cantos do país com os protestos que pedem justiça pela morte de George Floyd. Mais de quatro mil pessoas foram presas.
Os protestos em Washington, em sua maioria, foram pacíficos, porém houve episódios violentos nas proximidades da Casa Branca. Manifestantes incendiaram o porão da histórica igreja Episcopal St. John’s, conhecida como "igreja dos presidentes". O fogo não causou grandes danos ao local, segundo informou a polícia ao Washington Post. O prédio da Federação Americana do Trabalho e do Congresso das Organizações Industriais, que fica perto da Casa Branca, também foi incendiado. A polícia lançou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes reunidos em frente à Casa Branca.
As manifestações, que no domingo (31) chegaram ao sexto dia consecutivo, fizeram com que toques de recolher fossem impostos em ao menos 40 cidades para tentar conter os tumultos, os saques, os incêndios e as vidraças quebradas. As autoridades estão tentando determinar se havia extremistas infiltrados nas manifestações.
Foi a primeira vez, desde as mobilizações de 1968, após o assassinato de Martin Luther King Jr., que tantas cidades adotaram a medida ao mesmo tempo como resposta à agitação civil. Mais de 5 mil membros da Guarda Nacional foram postos em prontidão em 15 dos 50 estados americanos, mas manifestantes desafiaram a polícia e o toque de recolher e continuaram nas ruas.
Os protestos contra o racismo na abordagem policial começaram em Minneapolis, no estado de Minnesota, onde Floyd, um homem negro de 46 anos, foi asfixiado por um policial branco que pressionou o joelho sobre o pescoço dele por vários minutos. A morte de Floyd reacendeu o movimento contra o racismo na polícia, já visto em 2013 e 2014. Mas, desta vez, a revolta chega em meio a uma grave pandemia e a uma crise econômica comparável apenas à Grande Depressão de 1929.
Com o maior número de mortos pela Covid-19 no mundo - mais de 104 mil até agora -, 40 milhões de desempregados e uma ebulição social, os EUA entraram neste final de semana em uma crise histórica.
Os EUA iniciaram um processo de reabertura gradual da economia nas últimas semanas, após indicativos de que o pico da contaminação por coronavírus passou. Mas os protestos podem fazer com que a prevista segunda onda de contágio chegue antes do esperado.
Em Londres, Berlim e no Rio de Janeiro, manifestantes saíram às ruas em apoio à pauta americana. Nos EUA, a maioria das manifestações foi pacífica, mas houve conflito entre policiais e manifestantes em cidades como Minneapolis, Los Angeles, Chicago, Filadélfia, Atlanta, Nova York e Washington, com carros de polícia incendiados, lojas depredadas e saqueadas.
O crescimento e a escalada no tom das manifestações indicam que os manifestantes terão dificuldade em manter a coesão. Vídeos mostram manifestantes negros no Brooklyn, em Nova York, tentando evitar que uma loja da rede Target fosse depredada, indicando o desacordo interno.
À frente da Casa Branca, Donald Trump é uma figura que provoca divisão. O país é rachado entre os que amam e os que odeiam o americano. No sábado, ele chegou a sugerir que seus apoiadores se manifestassem na Casa Branca, o que poderia piorar a tensão caso houvesse choque entre grupos.
Ontem, o presidente anunciou que vai designar o grupo antifascista Antifa, quem culpa pelos episódios de violência nas manifestações, como uma organização terrorista. A designação é considerada uma ação política e diplomática, mas especialistas apontam que Trump terá dificuldade em executar a medida. Neste domingo, o Twitter suspendeu a conta @antifa_US, depois que o perfil instou os seguidores a entrar em "capuzes brancos" e "levar o que é nosso".
Filha de prefeito de NY entre os presos
A filha do prefeito de Nova York foi uma das cerca de 790 pessoas presas na cidade desde o início dos protestos contra a morte de George Floyd. Um oficial que falou em condição de anonimato por causa da sensibilidade do assunto afirmou que Chiara de Blasio, de 25 anos, foi presa na noite de sábado (30).
Um boletim de prisão obtido pelo jornal The New York Post diz que ela se recusou a deixar uma rua de Manhattan após o pedido de policiais. Chiara de Blasio, que é negra, foi convocada pelo tribunal e, posteriormente, liberada. O prefeito Bill de Blasio não falou da prisão em sua entrevista coletiva neste domingo.