Os estudantes de Hong Kong, que realizam manifestações pedindo mais democracia no território chinês, advertiram que vão intensificar suas ações se o chefe do Executivo local não renunciar hoje, possivelmente ocupando importantes prédios do governo.
A medida traz riscos de um novo confronto com a polícia, além de colocar pressão sobre o governo chinês, que até agora tem apenas declarado as manifestações como algo ilegal e apoiado o chefe do Executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying nas tentativas de encerrar os protestos, batizados de "revolução dos guardas-chuvas".
Publicações na mídia estatal chinesa indicam que o governo pode estar perdendo a paciência com os manifestantes. Um editorial solenemente lido na principal emissora de televisão chinesa, a CCTV, disse que os moradores de Hong Kong deveriam apoiar as autoridades para "implantar a ação da polícia de forma decisiva" e "restaurar a ordem social em Hong Kong o mais rápido possível".
Os estudantes lideram protestos pedindo amplas reformas eleitorais, o que representa o mais duro desafio à autoridade de Pequim desde que a China retomou o controle da ex-colônia britânica, em 1997.
Lester Shum, vice-secretário da Federação dos Estudantes de Honk Kong, disse que os estudantes gostariam de ter uma oportunidade de conversar com um funcionário do governo central chinês. "Porém, nós pedimos a eles que venham até a praça e falem com as massas", disse Shum aos jornalistas. "Este é um movimento de habitantes de Hong Kong e não liderado por qualquer grupo específico."
Shum exige a renúncia de Leung e diz que não há "espaço para o diálogo" porque ele ordenou que a polícia jogasse gás lacrimogêneo contra os manifestantes no fim de semana.
"Leung Chun-ying deve renunciar. Se ele não deixar o cargo até amanhã [hoje], intensificaremos nossas ações com a ocupação de vários prédios importantes do governo", disse, acrescentando que os manifestantes não interferirão em serviços governamentais "essenciais", como hospitais e escritórios de bem-estar social.
Reivindicações marcam o Dia Nacional chinês
Os estudantes receberam o apoio de simpatizantes que realizaram protestos em Macau, ex-colônia portuguesa que a China retomou em 1999, e também em Taiwan, que a China considera um território rebelde.
Em Hong Kong, os manifestantes interromperam o chefe do Executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, durante uma cerimônia, ontem pela manhã, em comemoração ao Dia Nacional, o dia em que a China comunista foi fundada, em 1949.
Centenas de pessoas gritaram que ele deveria renunciar, mas depois ficaram em silêncio e viraram de costas quando a cerimônia começou.
Em seu discurso, Leung não mencionou os protestos, mas disse aos eleitores que será melhor concordar com o projeto de Pequim de vetar candidatos e realizar a eleição do que manter o atual sistema, pelo qual uma Comissão Eleitoral escolhe o chefe do Executivo.
Já o presidente chinês Xi Jinping, que tem agido com rigor contra ameaças ao poder do Partido Comunista, prometeu no discurso pelo Dia Nacional "salvaguardar firmemente" a prosperidade e a estabilidade em Hong Kong.
Contexto
Os protestos honcongueses foram motivados por uma decisão tomada por Pequim, em agosto, sobre os candidatos que participarão da primeira eleição para a principal autoridade do território, marcada para 2017. O governo chinês exige que todos os candidatos sejam aprovado por um comitê, formado principalmente pelas elites locais, ligadas a Pequim. Os manifestantes dizem que a China está voltando atrás da promessa que o chefe do Executivo seria escolhido por meio de um "sufrágio universal".