Ao menos 122 sírios fugiram para a Turquia ontem temendo o envio de tropas de elite do ditador Bashar Assad para duas cidades no norte da Síria controladas por opositores do regime.
Segundo autoridades turcas, com a chegada dos refugiados, sobe para 380 o número de sírios que já cruzaram a fronteira. Ao menos 30 deles apresentavam ferimentos e foram hospitalizados.
Na última segunda-feira, o governo sírio afirmou que 120 membros de suas forças de segurança foram mortos por opositores na cidade nortista de Jisr al Shughur.
Ativistas dizem, porém, que os militares foram mortos pelos próprios colegas ao se recusarem atirar em civis. Não há relatos independentes sobre o caso.
Em represália, a 4.ª Divisão de Exército, tropa de elite comandada pelo irmão de Assad, Maher, foi enviada a Jirs al Shughur e Idlib (outra cidade opositora).
O medo de confrontos fez moradores abandonarem suas casas e fugirem para um campo de refugiados na cidade turca de Yayladagi.
O governo turco anunciou que não "fechará suas portas" para os refugiados. "Neste momento, está fora de questão que nós fechemos as portas aos refugiados sírios, afirmou o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.
O premiê turco pediu ao presidente sírio, Bashar Assad, que realize reformas.
ONU
Quatro países europeus apresentaram ontem um rascunho revisado de uma proposta de resolução à Organização das Nações Unidas (ONU), desta vez com o apoio dos Estados Unidos, condenando a Síria pela brutal repressão do presidente Bashar Assad contra os manifestantes, a qual deixou mais de 1.300 mortos desde meados de março. O novo texto foi apresentado por embaixadores da Grã-Bretanha, França, Alemanha e Portugal, em reunião fechada do Conselho de Segurança (CS).
Diplomatas da ONU, familiarizados com os melindres do Conselho de Segurança, dizem que essa nova proposta de resolução, fortemente apoiada pelos EUA, tem mais chances de evitar o poder de veto da Rússia, aliada do regime sírio. O embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, disse mais cedo que Moscou não apoiaria a proposta de resolução.
A proposta encabeçada por Grã-Bretanha e França estaria encontrando rejeição de países emergentes, como Brasil e Índia. O governo brasileiro não se pronunciou sobre a resolução.
Blogueira
O caso de uma blogueira lésbica síria-americana, Amina Arraf, supostamente presa pelo governo sírio, foi questionado ontem.
Arraf mantém um blog com o título "A Gay Girl in Damascus" (uma garota gay em Damasco) no qual conta suas experiências em um país autoritário.
Na terça-feira, um parente informou seu suposto sequestro pelo governo. Ela teria sido sequestrada quando se dirigia para um encontro com ativistas dos Comitês de Coordenação na capital síria.
O caso recebeu amplo destaque na mídia internacional. Mas, uma britânica, Jelena Lecic, afirmou ontem à imprensa que a foto que está circulando na internet como se fosse de Arraf é sua.
Ela disse que teve fotos copiadas indevidamente na internet. A Embaixada dos EUA na Síria tenta obter informações que ajudem a esclarecer o caso Arraf.
No blog, Amina Arraf afirma que nasceu na Virgínia (EUA). A agência Associated Press tentou localizar parentes e amigos da suposta blogueira no estado norte-americano, sem sucesso.
O governo sírio manteve silêncio sobre o caso.