| Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS/AFP

A estudante Emma Gonzalez, 18, ficou pouco menos de 6min20s em silêncio no palco da marcha por controle de armas nos Estados Unidos neste sábado (24). Foi o tempo que durou o ataque a tiros em sua escola na Flórida, onde 17 pessoas morreram em fevereiro. Numa multidão de milhares, era possível ouvir a respiração de quem estava ao lado.

CARREGANDO :)

As lágrimas escorriam pelo rosto de Gonzalez, que virou símbolo do movimento de jovens pelo controle de armas nos Estados Unidos.

”Lutem por suas vidas, antes que esse seja o trabalho de outra pessoa”, discursou a adolescente, ao final dos seis minutos.

Publicidade

Foi o ponto alto de um protesto altamente emotivo, que reuniu milhares de pessoas pelo país em defesa de regras mais restritivas ao comércio e ao porte de armas nos EUA. Houve cerca de 800 marchas simultâneas.

Liderado por estudantes que sobreviveram ao tiroteio na Flórida, o ato elegeu como um de seus alvos principais o banimento dos fuzis automáticos e pediu o engajamento dos jovens pelo voto.

”Vote para tirá-los” era o bordão mais repetido em Washington, onde cerca de 800 mil pessoas se reuniram, segundo os organizadores.

“Preparem seus currículos”, discursou David Hogg, 17, sobre legisladores que não assumirem compromisso com o controle de armas no país. Em novembro, os americanos elegem novos representantes para o Congresso e as assembleias estaduais.

Mas o protesto também contemplou a questão da violência urbana em cidades como Chicago, Los Angeles e Nova York, de onde vieram crianças que discursaram em alerta às mortes de negros, hispânicos e mulheres por armas de fogo.

Publicidade

”Essas mortes não chegam às primeiras páginas dos jornais”, disse Naomi Wadler, de apenas 11 anos.

Estudante Naomi Wadler foi um dos sobreviventes a falar na marcha neste sábado.  

”Virou normal ver velas, cartazes, balões em homenagem às vidas de negros e hispânicos que foram perdidas”, discursou a estudante Edna Chavez, 17, moradora de Los Angeles.

Os alunos da Flórida, sobreviventes do ataque à escola Marjory Stoneman Douglas, afirmaram ser privilegiados, de uma área rica e branca, mas disseram que dariam voz a todas as vítimas. No palco, apenas crianças e adolescentes, entre 9 e 18 anos, discursaram. Criticaram a epidemia das mortes por armas de fogo e afirmaram ter dado início a uma revolução.

Entre os principais temas dos discursos e estampados nos cartazes estavam o fim da venda de fuzis automáticos como o AR-15; a extensão da checagem de antecedentes a todas as compras de armas no país, inclusive em sites ou feiras de usados; e a crítica aos políticos financiados pela NRA (Associação Nacional do Rifle), maior lobby pró-armas dos Estados Unidos.

Publicidade

“Isso não é um golpe publicitário, ou apenas um dia, um evento. É um movimento”, afirmou Delaney Tarr, 17, estudante da Flórida.

LEIA TAMBÉM: Ele sobreviveu ao massacre de Columbine. Agora luta para que armas sejam liberadas nas escolas

Histórico

Não eram poucos os manifestantes que comparavam a marcha ao movimento por direitos civis nos EUA, na década de 1960.

O reverendo Martin Luther King Jr., morto em 1968, foi lembrado em vários discursos. Em especial, no de sua neta, Yolanda Renne King, 9.

“O meu avô tinha um sonho: que seus quatro filhos não fossem julgados pela cor de sua pele, mas por seu caráter”, discursou. “Eu tenho um sonho: basta é basta”, gritou, em alusão a um bordão dos manifestantes.

Publicidade

Performances de artistas como Demi Lovato e Ariana Grande —que foi cercada pelos adolescentes para selfies ao final de sua canção— ajudaram a impulsionar o tom emotivo do evento.

Por todos os lados, viam-se pessoas às lágrimas. Uma das sobreviventes que subiu ao palco passou mal e vomitou em meio ao discurso. Voltou aos microfones mesmo assim e saiu aplaudida.

Ao final do dia, a organização liderada pelos estudantes havia arrecadado US$ 5,4 milhões em doações pela internet. O dinheiro seria usado para o suporte logístico da marcha, que foi transmitida ao vivo pela internet, e em protestos paralelos, além de apoio às famílias das vítimas da Flórida.

Contraprotestos também foram vistos no meio da marcha —como de grupos antiaborto e a favor do porte de armas, com cerca de dez pessoas. Alguns manifestantes protestavam contra os “intrusos”, e a polícia cercou alguns deles para que saíssem da multidão. Mas não houve registro de confrontos.

O presidente Donald Trump não estava em Washington: viajara na sexta para sua propriedade na Flórida, onde passou a tarde de sábado jogando golfe.

Publicidade

Em nota, a Casa Branca afirmou que "aplaude a coragem de tantos jovens americanos que exercitaram seu direito à liberdade de expressão". Informou que "manter as crianças seguras é a prioridade número um do presidente", por meio de propostas como o fim dos bumpstocks" (que aceleram o disparo de tiros em armas comuns) e a melhoria do sistema de denúncias anônimas e de segurança nas escolas.