Milhares de pessoas participaram neste sábado (12) de marchas opositoras convocadas em toda a Venezuela como primeira etapa de um ciclo de protestos que pretende forçar a renúncia do presidente Nicolás Maduro e demonstrar apoio a outros mecanismos para mudar de governo.
Em Caracas, o comparecimento foi estimado pela reportagem em cerca de 3 mil pessoas, um número maior que manifestações do ano passado, mas ainda longe de qualquer mobilização de massa capaz de pressionar o governo, que organizou sua própria manifestação para mais tarde em outra zona da capital. Não houve estimativa oficial de participantes.
“Maduro, nos poupe da tragédia e renuncie já”, bradou o veterano Henry Ramos Allup, presidente da hoje opositora Assembleia Nacional, sob gritos e aplausos da multidão reunida numa área nobre da capital.
Usando linguajar tosco semelhante ao do chavismo, Ramos Allup zombou dos “motores da economia” com os quais o governo pretende reverter a crise e, apontando para a própria genitália, disse: “isto, sim, é um motor que funciona”.
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Leia a matéria completaO deputado Freddy Guevara disse que a manifestação deste sábado deve multiplicar-se e crescer-se em breve. “Nosso objetivo é que a próxima marcha se multiplique por dez, e a seguinte por mais dez, e assim por diante até que haja um milhão de pessoas protestando juntas em Caracas”, afirmou.
A oposição diz defender marchas pacíficas, mas, em 2014, protestos antigoverno desencadearam uma onda de violência que deixou 43 mortos, incluindo manifestantes e policiais. Neste sábado, porém, não houve sinal de violência.
Simpatizante opositora, a professora Berenice Caruso, 74, trajava com orgulho uma camiseta com a mensagem: “11.04.2002, eu estive lá”. Trata-se de referência à serie de protestos que criaram condições para uma tentativa de golpe de Estado contra o então presidente Hugo Chávez naquele ano.
“Eu sou a prova viva de que protestos de rua podem levar o presidente a renunciar, e hoje estamos reavivando este processo”, disse Caruso, que rejeita chamar de golpe o ocorrido de 2002.
Manifestações de rua são parte de uma estratégia tripla com a qual a aliança opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática) pretende usar o Legislativo, que controla desde janeiro, como plataforma para abreviar a Presidência de Maduro.
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Leia a matéria completaAs outras duas apostas da MUD são uma emenda constitucional para reduzir o mandato presidencial dos atuais seis para quatro anos (Maduro foi eleito em 2013) e um referendo revogatório para tirar o presidente do poder e convocar eleições ainda neste ano.
Decreto de emergência
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pediu ao Parlamento de maioria opositora a prorrogação do decreto de emergência econômica – informou o presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup.
Apesar do veto do Legislativo, o decreto entrou em vigor com apoio do Poder Judiciário. “Maduro enviou à presidência da Assembleia Nacional uma solicitação para que a Assembleia considerasse a prorrogação do decreto de emergência que negamos”, disse Ramos. Desafiador, Ramos questionou o motivo pelo qual Maduro não compareceu ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). “Se Nicolás fosse coerente, teria mandado a solicitação para lá”, criticou.
Em 15 de janeiro passado, Maduro promulgou um decreto – vigente por 60 dias – que autoriza seu governo a dispor de bens do setor privado para garantir o abastecimento de produtos básicos, limitar a entrada e a saída de moeda local em espécie e facilitar a entrega de divisas para agilizar as importações.
Embora a medida tenha sido vetada pela maioria de oposição no Parlamento, a Sala Constitucional do TSJ reconheceu sua legalidade e validou sua vigência.
A bancada opositora convocou para este domingo uma “sessão especial”, na qual vai-se declarar em “debate permanente” até o próximo sábado, 19 de março. Neste dia, completa-se o prazo para anunciar se apoiam, ou se rejeitam, a prorrogação.
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