Indígenas que marcham há dois meses a partir da Amazônia boliviana contra uma estrada financiada pelo Brasil chegaram na segunda-feira a La Paz, e negaram que sua caminhada seja uma tentativa de golpe de Estado, como afirmou o governo de Evo Morales.
"Nós descartamos tudo o que o governo diz, que pretendemos um golpe de Estado", afirmou à AFP o líder dos indígenas, Fernando Vargas, depois de uma coluna de várias centenas de indígenas ter chegado ao pequeno velarejo de Urujara, 12 km ao norte da sede de governo.
"Ainda não há data para entrar em La Paz", disse Vargas, no momento em que a capital boliviana encontra-se sem vigilância policial, já que os oficiais estão amotinados desde quinta-feira por demandas salariais, tomando a Praça de Armas, onde o presidente Evo Morales tem seu gabinete.
Morales, seu vice-presidente, Alvaro García, e a ministra de Comunicação, Amanda Dávila, asseguraram nos últimos três dias que setores da direita buscam um golpe de Estado, fazendo coincidir as reclamações dos indígenas com o motim dos policiais em todo o país.
O vice-presidente García inclusive disse que há um "Plano Tipnis" da direita que buscaria convulsionar a Bolívia, concatenando os dois conflitos sociais.
O Tipnis é o Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure, que os indígenas defendem e pela qual marcham pela segunda vez em oito meses, para evitar a construção de uma estrada financiada pelo Brasil que o dividirá em dois.
"Não há um plano Tipnis para dar um golpe de Estado, quem tem o Plano Tipnis é o governo para invadir o Tipnis" com sua estrada asfaltada, afirmou o líder indígena.
Os indígenas iniciaram sua caminhada na cidade de Trinidad em 27 de abril e até agora já percorreram 588 km.
A coluna de manifestantes cruzou nesta segunda-feira a Cordilheira Oriental dos Andes, por uma estrada a 4.000 metros de altitude e chegaram a Urujara, perto de La Paz, a 3.600 metros.