Bauru O paulista Marcos Pontes, de 43 anos, entrou ontem para a história como o primeiro astronauta brasileiro a viajar para o espaço. O sonho de toda a vida de Pontes se tornou realidade em nove minutos, tempo necessário para a nave Soyuz chegar ao espaço depois do lançamento, realizado às 23h30, no Casaquistão, sem imprevistos. A viagem até a Estação Espacial Internacional, que fica a 350 quilômetros de altura, que vai durar dez dias, pela dificuldade para a acoplagem. Pontes tem objetivos definidos: fazer valer a participação do Brasil no programa e executar experimentos de oito pesquisas coordenadas por cientistas brasileiros.
Com muita ansiedade e "um pouco" de medo, familiares de Pontes assistiram ao lançamento em Bauru (SP). O medo tinha razão de ser. A nave russa que decolou com o brasileiro e seus dois colegas o comandante russo Pavel Vinogrov e o tripulante norte-americano Jeffrey Williams é bastante antiga. A Soyuz é uma espécie de "fusca espacial", por causa de seus 40 anos de serviço e por sua confiabilidade. Projetistas e astronautas russos e estrangeiros afirmam que a nave continua sendo "a mais perfeita e esbelta de todos os tempos".
"Não dá para negar que sentimos um pouco de medo", dizia o diretor de escola Luiz Carlos Pontes, o mais velho dos três filhos do aposentado Virgílio Pontes, 89 anos, que esperava ansioso o filho caçula alcançar seu sonho de infância. O lançamento foi mostrado através de um telão. Seu Virgílio viu a viagem do filho acompanhado por um médico.
Pontes e seus colegas tiveram algumas horas de tranqüilidade antes de partirem para a EEI. "Estamos incrivelmente calmos. É algo que só podemos explicar pelo fato de estarmos prontos", disse o astronauta norte-americano, que permanecerá por seis meses no espaço com o cosmonauta Pavel Vinogradov. Pontes volta no próximo dia 8, com um astronauta e um cosmonauta que já estão na EEI.
"No momento em que estivermos decolando, gostaria de lembrar que, há 100 anos, outro brasileiro começava na França uma missão muito importante", disse Pontes ontem de partir. A expedição foi batizada de Centenário pelo governo brasileiro em homenagem ao aviador e inventor Alberto Santos Dumont.
O astronauta brasileiro brincou com a superstição: esta é a 13.ª expedição à ISS e, ontem, um eclipse do Sol foi observado em várias partes do mundo, inclusive no Brasil e no Casaquistão. "Creio que é uma coincidência bastante interessante. Muitos perguntam sobre o número 13, o eclipse e o alinhamento dos astros. Acho que tudo está se alinhando para uma boa missão."